domingo, 28 de setembro de 2014

Utopia.

Os heróis estão a postos. Do nada surgiram e ocupam todos os cantos do País. Muitos retornam após quatro anos de extrema dedicação à causa humana. Os esforços não os abatem e, mesmo sendo meros mortais, enfrentam as intempéries climáticas sem perder a expressão de bondade estampada nos rostos seguidos de gestos delicados e simpáticos. São modernos guerreiros que não medem esforços no combate às dificuldades. A cada biênio é assim; por um determinado tempo as coisas se ajeitam. Ondas de benignidade assaltam as cidades fazendo emergir obras, até antes emperradas, inaugurações faraônicas; o inusitado acontece. E todos clamam numa só voz: “É o fim do desemprego! A segurança plena é um direito de todos! A educação será de primeiro mundo! Nota dez para a saúde; adeus à marginalidade e aos preconceitos! Virá aumento gradativo de salário, a ascensão dos aposentados, o fim da mortalidade infantil, a elevação geral do nível de vida e os transportes atingirão níveis nunca vistos. Modernos ônibus circularão onde só os tatus, munidos de chuteiras, atravessavam!”
Soam trombetas e, com elas, disparam as carreatas. Legião de adolescentes desfila pelas ruas. Distribuem “os santinhos” e muita simpatia. Tudo pelo social! Cada esquina apresenta sua atração: festas grandiosas são promovidas nas comunidades, shows variados todas as noites, peonadas e sempre, por mera coincidência, tem alguém a lembrá-lo de que ele é a pessoa indicada para os maiores cargos. Com todo esse aparato, o “povão”, esquecendo a barriga “no fundo” e as incertezas do amanhã, sente-se feliz. Nesse clima de comemoração, ignorando preconceitos, os semblantes se amenizam e os homens se abraçam (e como se abraçam!).
Apesar de todas as fiscalizações, em cada quarteirão, os soldados do Apocalipse mantêm-se nas placas, e com seus “e-mails”, facebooks espalhados pelas esquinas e residências. Suas armas letais são: a arte de tampar o sol com a peneira e a habilidade de ocultar o pó por sob o tapete vermelho que os pés descalços e eufóricos, transpõem. “Época das vacas gordas!”, dizem os iludidos. O que não se comenta, é que segundo o sonho profético, do mesmo Nilo de onde saíram vacas gordas, sucederam-se as vacas magras e famintas...