Os heróis
estão a postos. Do nada surgiram e ocupam todos os cantos do País. Muitos
retornam após quatro anos de extrema dedicação à causa humana. Os esforços não
os abatem e, mesmo sendo meros mortais, enfrentam as intempéries climáticas sem
perder a expressão de bondade estampada nos rostos seguidos de gestos delicados
e simpáticos. São modernos guerreiros que não medem esforços no combate às
dificuldades. A cada biênio é assim; por um determinado tempo as coisas se
ajeitam. Ondas de benignidade assaltam as cidades fazendo emergir obras, até
antes emperradas, inaugurações faraônicas; o inusitado acontece. E todos clamam
numa só voz: “É o fim do desemprego! A segurança plena é um direito de todos! A
educação será de primeiro mundo! Nota dez para a saúde; adeus à marginalidade e
aos preconceitos! Virá aumento gradativo de salário, a ascensão dos
aposentados, o fim da mortalidade infantil, a elevação geral do nível de vida e
os transportes atingirão níveis nunca vistos. Modernos ônibus circularão onde
só os tatus, munidos de chuteiras, atravessavam!”
Soam
trombetas e, com elas, disparam as carreatas. Legião de adolescentes desfila
pelas ruas. Distribuem “os santinhos” e muita simpatia. Tudo pelo social! Cada
esquina apresenta sua atração: festas grandiosas são promovidas nas
comunidades, shows variados todas as noites, peonadas e sempre, por mera coincidência,
tem alguém a lembrá-lo de que ele é a pessoa indicada para os maiores cargos.
Com todo esse aparato, o “povão”, esquecendo a barriga “no fundo” e as
incertezas do amanhã, sente-se feliz. Nesse clima de comemoração, ignorando
preconceitos, os semblantes se amenizam e os homens se abraçam (e como se
abraçam!).
Apesar de
todas as fiscalizações, em cada quarteirão, os soldados do Apocalipse mantêm-se
nas placas, e com seus “e-mails”, facebooks espalhados pelas esquinas e
residências. Suas armas letais são: a arte de tampar o sol com a peneira e a
habilidade de ocultar o pó por sob o tapete vermelho que os pés descalços e
eufóricos, transpõem. “Época das vacas gordas!”, dizem os iludidos. O que não
se comenta, é que segundo o sonho profético, do mesmo Nilo de onde saíram vacas
gordas, sucederam-se as vacas magras e famintas...