domingo, 28 de março de 2021

A Corte, a Peste e o Bufão.

 

   Nos idos da Idade Média, a história relata a estrutura dos Reinos que se estabeleceram no Velho Mundo. Como a arte era um fator comum entre os povos, adotaram - entre vários segmentos do gênero - a figura pública do bufão ou, o Bobo da Corte, que era encarregado de alegrar a realeza. O eleito era escolhido entre os hábeis em conhecimentos mundanos (da época), com destreza e talentos que mantinha a comunidade entretida através de seus micos e trejeitos típicos, com vestimenta fanfarrona e debochada, espalhava farsa, críticas e lições de moral aos nobres, servos e plebeus.  
   
Fato parecido ocorreu num pleito eleitoral de um país emergente das Américas, no final da segunda década do século XXI.  Entre os tradicionais pactos e conchavos, muitas “fakes News” acobertaram o contexto sombrio que rondava o Posto maior. Da mesma forma, a atitude do mandatário que veio a ser eleito também foi intrigante. Normalmente, o dirigente de uma nação comporta-se de maneira discreta até adquirir intimidade com os subordinados. Não foi assim. Em toda a sua restrita campanha, a presença do elemento surpresa esteve presente; seja nos maus tratos com a minoria, com a natureza, na indiferença com os concorrentes; até alvo de uma tentativa de assassinato (é o que os noticiários afirmam). Em meio a tantas mudanças, veio a posse e as supressas continuaram.  Discursos, promessas, o fim do horário de verão entre outras.
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   No início do segundo ano de seu mandato, o mundo foi acometido de uma peste oriunda do Oriente. Posicionando contra os protocolos mundiais, enquanto o mundo recomendava cautela, ele permanecia contradizendo as determinações sanitárias, estimulando o povo a se rebelar contra as determinações científicas; acompanhava os protestos nos arredores da Explanada; desafiou autoridades mundiais, mas foi interditado nas linhas do STF, e viu parte de seus propósitos serem abandonados pelos seguidores.
   Na medida em que a virose se propagava, suas ambições foram caindo por terra. Frente às derrotas políticas que vinha sofrendo (Russomano em São Paulo e Crivella, no Rio) em importantes centros político-econômicos que se destacam na Federação. discretamente foi se afastando do foco principal.
   No último semestre, assumiu a função pela qual foi eleito. Agora se ocupa com viagens representativas, atitudes populistas e ao combate a eventuais adversários políticos. Em contrapartida, o seu vice ocupava seu espaço nos encontros, no trato com a imprensa e nas reuniões e entrevistas bilíngue, vantagem que lhe foi negada; ainda se afastou da imprensa crítica e do mantra: o Brasil acima de tudo; Deus acima de todos!
   Com o passar dos dias, notou-se a ausência do deputado afrodescendente que o acompanhava nas coletivas, além de artistas e candidatos populares que com ele se elegeram, assim como o abandono do partido que o amparou. Quase (ou todos) os assessores nomeados em seu governo também ficaram de fora. Substituiu os civis dos cargos próximos por militares e em pontos estratégicos.  Forçou a saída do Juiz Moro, magistrado que embarcou em sua caravana, o mesmo que comandava uma força tarefa em busca de corruptos e que denunciou e mostrou o teor das reuniões que traçavam os destinos do País; abdicou do apoio do grupo dos 300 (30) que agitava a paz próximo à Esplanada; de parte da Ala Evangélica e se coligou com um grupo opositor que o mantém ileso das dezenas de pedidos de afastamento, mas a peso de ouro. Paralelo a tantos percalços, a peste que aparentava ser passageira continua em ascensão.
   Quando ainda em campanha política, os Arcanos das Leis haviam imposto condenação questionável e detiveram um velho que havia sido Presidente à prisão. A defesa do prisioneiro, no entanto, se manteve atenta e a questionar erros na Lei. Recentemente, os mesmos magistrados que proclamaram a sentença condenatória, avaliando novos atos que sugiram, estão revendo o processo; com isso, o “Robin Hood” dos tempos modernos retomou momentaneamente a sua liberdade e volta a atacar o Chefe em decadência. (Cite-se o veto sobre a sua ordem em suspender o toque de recolher no Distrito Federal, na Bahia e no Rio Grande do Sul). Por sua vez, a pandemia atingiu seu pico mais elevado e milhares de vidas são ceifadas diariamente. Junte-se a isso o desprezo dos dirigentes mundiais, da imprensa que o apoiavam – o grupo do Bispo, do Baú-, dos panelaços durante seu pronunciamento; caso a suspeição do juiz Moro se confirme, prejuízos incalculáveis virão à tona.
   Contrário aos originais bufões que se destacavam pelas palhaçadas infantis; este em evidência, foi lapidado pelo calor da conduta pública questionada, pelo deboche, do palavreado chulo, pelas mentiras deslavadas com que trata seus súditos. Como um Bufão, ainda usa da simplicidade, da ingenuidade, da infantilidade das pessoas para entretê-las, enquanto a Corte, reunida com seus matemáticos, tesoureiros e conselheiros; sem maiores explicações, declinou a moeda local, ampliou o apoio aos aliados impondo pesado fardo tributário à população que se debate frente o recolhimento, ao desemprego, e a presença sombria da morte que paira sobre eles enquanto o imunizante não chega.
   Dentro das leis republicanas, seria ele a locomotiva que alavancaria a nação; mas aos olhos dos céticos, não passa de uma máquina velha, debilitada e desordenada que vai se arrastando pelos trilhos, sobre as determinações austeras de um general, de generais, ou do “Centrão” ... opositores que apossaram de sua fraqueza e agora o tem em mãos.  
  
 Aquele que há pouco tempo se dava ao direito de provocar o mundo, hoje caminha com as ventas tapadas (máscara), cercado a distância por Hienas oportunistas, observado por aves de rapina, acorrentado por severos opositores que ditam as suas regras; como um cordeiro em ponto de abate, no poder de uma matilha de lobos, famintos.