terça-feira, 12 de outubro de 2021

Desfile de Máscaras.

Ela surgiu como uma necessidade, tornou-se imprescindível; mas está indo embora. Recrutada do século XX, veio em um momento em que o avanço do Covid-19 se expandia de forma desenfreada. No apogeu da pandemia, em todo o mundo sua presença foi imperiosa. Era um desfile de arte, de tédio e de insegurança. Todas as pessoas de bem a utilizaram e -ainda usam-, mas seu tempo está acabando com o fim da quarentena... 

A pandemia que em 2020 assolou o mundo provocou muitos transtornos. Entre tantas experiências, o planeta se tornou um imenso centro de pesquisas, de embates políticos e fanáticos, mas nem tudo era problema; há detalhes que se afloraram exigindo dos indivíduos atos inovadores, permitindo que a vida, em sua plenitude, se mantivesse ativa.

sbmt.org.br - google
Primeiro veio a necessidade das pessoas em situação de risco se afastarem do trabalho não essencial, de ficarem em casa. Como não poderia ser, a exploração oportunista também se fez presente. Os órgãos de notícias se encarregaram de nutrir os diferentes veículos de comunicação, em todas as esferas, para informar e confundir a massa ignara. Contrariando as previsões mais otimistas, aquela que seria uma simples virose atravessou todos os mares impondo uma cortina de terror às pessoas em sua luta diária. Porém, mesmo em frente a um inimigo tão voraz, uma atitude simples chegaria para dar um novo alento à tantas inquietações.  Frente ao número de morte que disparava em todo o planeta, alguém lembrou das máscaras, arma que retardou a disparada do vetor desconhecido que assombrava o mundo, no século passado, durante a Gripe Espanhola. Imediatamente, a multidão lançou mão das sobras de linhos, de algodão e improvisando aqueles apetrechos desajeitados (aparentando sósias dos bandidos do velho faroeste), contudo; desta vez, era para proteger a própria saúde e não para ocultar a identidade frente ao rigor das leis do oeste distante.

Vez por outra, surgia postagem contra o seu uso alegando que o indivíduo poderia se sufocar. Era uma inverdade tão insossa que um aluno do ensino básico sabia de cor. O pequeno espaço que há entre as narinas e a máscara pouco representa frente aos tantos gases e corpos nocivos que ficavam retidos nelas.

Ainda no quesito efeito social, pode-se dizer que a mesma proteção que oculta o rosto e impede a invasão total da vida em miniatura que permanece no ar, desnuda uma dura realidade que permanece entre os seres humanos. Em um mundo que há milênios se tenta preservar o amor ao próximo; hoje, visivelmente, parte da sociedade age como se fosse o dono da sabedoria e da ciência. Alguns porque discordam, se esquecendo da dor humana, do desespero na presença eminente do desconhecido, dos profissionais da saúde. Ainda questionam porque acham deselegantes; há aqueles que o fazem por ausência de conhecimento; outros para fazerem o que é mais desprezível na humanidade que é se prostar às autoridades narcisas que, se julgando a mais astutas do mundo, debocham da pandemia desconsiderando a vida como um todo, estimulando a imunização de rebanho, independentemente de suas deficiências patológicas. 

Diante de tantos prós e poucos contras, enquanto a imunização completa não vem, é prudente que se utilize desse aparato. Embora seja desconfortável em determinados lugares, ela detém uma gama de vírus e microrganismos que afetariam seus órgãos mais sensíveis.

Agora que a imunização se aproxima dos 80%,  a proteção ainda se faz útil nas cidades de veraneios por estas estreitarem o contato com pessoas de origens desconhecidas. Da mesma forma, no trato com idosos, classes de alto risco e em ambientes aglomerados. Na prática, ela cai bem no “busão”, nos trens, na feira livre; no churrasco na laje; e sendo uma proteção buco-facial, protege o organismo, mas não oculta a identidade das pessoas que têm por si ou por quem participa de seu convívio, um pouco de respeito.

Por fim, onde você pode ficar sem ela. Se o ambiente for seguro, confiável, com pessoas de sua inteira confiança; nada impede que nele exponha seu mais belo sorriso - aquele que ficou trancado há mais um ano - ou se for com a pessoa amada, num banho de espuma; ou mesmo sob uma ducha discreta, onde a água morna, límpida, desponta de uma pequena cascata térmica e escorre pelos relevos e cavidades desvendando a geografia humana e seguindo em direção ao mar... ou naqueles momentos extremos em que os corpos falam por si... também poderá descarta-la, (a máscara) sem remorso.  

Quanto a proteção sobre o rosto, seu legado marcará uma fase trágica que entrará para a história, um longo desfile que não será esquecido, mas sem deixar saudades!

 


domingo, 28 de março de 2021

A Corte, a Peste e o Bufão.

 

   Nos idos da Idade Média, a história relata a estrutura dos Reinos que se estabeleceram no Velho Mundo. Como a arte era um fator comum entre os povos, adotaram - entre vários segmentos do gênero - a figura pública do bufão ou, o Bobo da Corte, que era encarregado de alegrar a realeza. O eleito era escolhido entre os hábeis em conhecimentos mundanos (da época), com destreza e talentos que mantinha a comunidade entretida através de seus micos e trejeitos típicos, com vestimenta fanfarrona e debochada, espalhava farsa, críticas e lições de moral aos nobres, servos e plebeus.  
   
Fato parecido ocorreu num pleito eleitoral de um país emergente das Américas, no final da segunda década do século XXI.  Entre os tradicionais pactos e conchavos, muitas “fakes News” acobertaram o contexto sombrio que rondava o Posto maior. Da mesma forma, a atitude do mandatário que veio a ser eleito também foi intrigante. Normalmente, o dirigente de uma nação comporta-se de maneira discreta até adquirir intimidade com os subordinados. Não foi assim. Em toda a sua restrita campanha, a presença do elemento surpresa esteve presente; seja nos maus tratos com a minoria, com a natureza, na indiferença com os concorrentes; até alvo de uma tentativa de assassinato (é o que os noticiários afirmam). Em meio a tantas mudanças, veio a posse e as supressas continuaram.  Discursos, promessas, o fim do horário de verão entre outras.
pt.wikipedia,org
   No início do segundo ano de seu mandato, o mundo foi acometido de uma peste oriunda do Oriente. Posicionando contra os protocolos mundiais, enquanto o mundo recomendava cautela, ele permanecia contradizendo as determinações sanitárias, estimulando o povo a se rebelar contra as determinações científicas; acompanhava os protestos nos arredores da Explanada; desafiou autoridades mundiais, mas foi interditado nas linhas do STF, e viu parte de seus propósitos serem abandonados pelos seguidores.
   Na medida em que a virose se propagava, suas ambições foram caindo por terra. Frente às derrotas políticas que vinha sofrendo (Russomano em São Paulo e Crivella, no Rio) em importantes centros político-econômicos que se destacam na Federação. discretamente foi se afastando do foco principal.
   No último semestre, assumiu a função pela qual foi eleito. Agora se ocupa com viagens representativas, atitudes populistas e ao combate a eventuais adversários políticos. Em contrapartida, o seu vice ocupava seu espaço nos encontros, no trato com a imprensa e nas reuniões e entrevistas bilíngue, vantagem que lhe foi negada; ainda se afastou da imprensa crítica e do mantra: o Brasil acima de tudo; Deus acima de todos!
   Com o passar dos dias, notou-se a ausência do deputado afrodescendente que o acompanhava nas coletivas, além de artistas e candidatos populares que com ele se elegeram, assim como o abandono do partido que o amparou. Quase (ou todos) os assessores nomeados em seu governo também ficaram de fora. Substituiu os civis dos cargos próximos por militares e em pontos estratégicos.  Forçou a saída do Juiz Moro, magistrado que embarcou em sua caravana, o mesmo que comandava uma força tarefa em busca de corruptos e que denunciou e mostrou o teor das reuniões que traçavam os destinos do País; abdicou do apoio do grupo dos 300 (30) que agitava a paz próximo à Esplanada; de parte da Ala Evangélica e se coligou com um grupo opositor que o mantém ileso das dezenas de pedidos de afastamento, mas a peso de ouro. Paralelo a tantos percalços, a peste que aparentava ser passageira continua em ascensão.
   Quando ainda em campanha política, os Arcanos das Leis haviam imposto condenação questionável e detiveram um velho que havia sido Presidente à prisão. A defesa do prisioneiro, no entanto, se manteve atenta e a questionar erros na Lei. Recentemente, os mesmos magistrados que proclamaram a sentença condenatória, avaliando novos atos que sugiram, estão revendo o processo; com isso, o “Robin Hood” dos tempos modernos retomou momentaneamente a sua liberdade e volta a atacar o Chefe em decadência. (Cite-se o veto sobre a sua ordem em suspender o toque de recolher no Distrito Federal, na Bahia e no Rio Grande do Sul). Por sua vez, a pandemia atingiu seu pico mais elevado e milhares de vidas são ceifadas diariamente. Junte-se a isso o desprezo dos dirigentes mundiais, da imprensa que o apoiavam – o grupo do Bispo, do Baú-, dos panelaços durante seu pronunciamento; caso a suspeição do juiz Moro se confirme, prejuízos incalculáveis virão à tona.
   Contrário aos originais bufões que se destacavam pelas palhaçadas infantis; este em evidência, foi lapidado pelo calor da conduta pública questionada, pelo deboche, do palavreado chulo, pelas mentiras deslavadas com que trata seus súditos. Como um Bufão, ainda usa da simplicidade, da ingenuidade, da infantilidade das pessoas para entretê-las, enquanto a Corte, reunida com seus matemáticos, tesoureiros e conselheiros; sem maiores explicações, declinou a moeda local, ampliou o apoio aos aliados impondo pesado fardo tributário à população que se debate frente o recolhimento, ao desemprego, e a presença sombria da morte que paira sobre eles enquanto o imunizante não chega.
   Dentro das leis republicanas, seria ele a locomotiva que alavancaria a nação; mas aos olhos dos céticos, não passa de uma máquina velha, debilitada e desordenada que vai se arrastando pelos trilhos, sobre as determinações austeras de um general, de generais, ou do “Centrão” ... opositores que apossaram de sua fraqueza e agora o tem em mãos.  
  
 Aquele que há pouco tempo se dava ao direito de provocar o mundo, hoje caminha com as ventas tapadas (máscara), cercado a distância por Hienas oportunistas, observado por aves de rapina, acorrentado por severos opositores que ditam as suas regras; como um cordeiro em ponto de abate, no poder de uma matilha de lobos, famintos.

 

domingo, 21 de fevereiro de 2021

Trump, o Covid-19 e a Eleição.

 

“O PRESIDENTE DONALD TRUMP FOI CONTAMINADO PELO COVID-19”.

visao.sapo.pt/ google
As manchetes principais de todos os meios de comunicação do mundo, na noite do dia 01 de outubro de 2020, estampavam esta matéria. O homem mais protegido do planeta havia testado positivo para a Covid-19. Porque só agora? Perguntavam-se. ... quando os laboratórios já afirmavam que as vacinas estavam chegando ao término dos testes necessários e prestes a serem aplicadas em larga escala na humanidade!... sem mencionar que o aparato de segurança da Casa Branca era o melhor do mundo! ... daí expor a maior autoridade ao vírus teria sido um descaso? O texto também afirmava que o mesmo havia ocorrido com a primeira Dama, é um fato compreensível. Se ambos habitavam no mesmo espaço... improvável seria se ela só viesse a ser infectada dias depois, e por fontes desconhecidas; mas, enfim, era o fato. E a imprensa mundial se encarregou de apregoar um momento difícil daquele que tem em mãos o maior poder bélico, que é influente no setor social, econômico, político e produtivo em todo o planeta.

Em meio a tanto alarde, veio outro questionamento: - como seria a sua recuperação, sendo ele uma pessoa senil?... porém, bastou o índice de popularidade de Biden se elevar perante na opinião popular para que a saúde do velho dirigente se reestabelecesse.  Ainda vociferando sobre a fragilidade da doença, que não passava de um mal estar, ele se dizia recolhido para se recuperar em casa.

Qual seria o real motivo de seu afastamento? A saúde debilitada? De fato, ele se contaminou? ... para quem tem as melhores referências médicas ao seu dispor e já havia superado outros contatos com portadores da mesma virose, e permaneceu ileso!... só agora veio a ser acometido do mal do momento? Não seria uma estratégia para chamar a atenção dos eleitores frente a aparente queda nos índices de apoio apresentado pelos órgãos de consulta? Em uma nação em que os eleitores estavam votando pelos correios, qualquer queda na opinião poderia ser fatal. Recuperado, sem sequela e indiferente ao clamor do mundo, ele permaneceu se opondo aos tratos contra a pandemia, indicando medicamentos experimentais como alternativas, debochando das medidas mundialmente recomendadas e enaltecendo aqueles que rejeitavam atos restritivos à liberdade. Manteve, ainda, os desafios e provocações às grandes potências, mas o mesmo poder que ele exibia ao mundo, já era combatido internamente por suas atitudes contra as minorias, no desprezo com os negros, em um formato eleitoral que permite aos eleitores anteciparem suas opiniões; que admite que o constituinte opine motivado por (eventuais) questões pontuais, correndo risco de tomar uma decisão errônea e sem a possibilidade de voltar atrás.

Após conturbada campanha, no dia 03 de novembro de 2020, concluíram-se as votações e os americanos, natos e naturalizados, ainda em sigilo, determinaram quem deveria comandar o seu país nos próximos quatro anos.

Chegou a hora da verdade. Voto a voto, a opinião de um povo, que se diz ser o mais culto no critério democrático, assegurou o Cargo Mor ao seu concorrente, que prometia um mandato mais humano, que se propunha a buscar o equilíbrio entre os homens e a natureza; e que defendia - em partes- os ideais de Obama, o negro.   

Muitos dos votos negados a Trump foram respostas às más atitudes suas com relação ao racismo, em desprezo à memória de George Floyd, -enaltecido em todo o planeta-, e com as ações lesivas advindas de um vírus invisível que assolou os americanos.

Não bastando mais recurso legais ou políticos, Donald Trump se rendeu. Nos dias que antecederam a sua despedida, ainda usou de todas as suas artimanhas: provocou as autoridades locais, questionou a lisura da eleição e, em ato desesperado, convocou os aliados para marcharem até o Capitólio tentando intervir na confirmação da eleição de Biden; fato que redundou em agressões, mortes e em mais um pedido de impeachment não concretizado, graças a atitude parcial do Senado que o manteve elegível; mas entrou para a história marcado por atitudes reprováveis à democracia. A maior economia do mundo, a mais alta potência militar também conquistou, como em muitas modalidades de competições, o primeiro lugar isolado em óbitos, frutos de uma virose que ele afirmava ser só um mal-estar.

Por ironia do destino, o homem mais poderoso, aquele que se impunha sobre as nações, que “venceu” a Covid 19, caiu em descrédito frente a um inimigo conhecido que, em seu momento, amparado pelas leis que sustentam os direitos humanos, o derrotou com um pacífico... não!


sábado, 28 de novembro de 2020

Bruno e Boulos. Bases Opostas, Objetivos Comuns.

Bruno & Boulos  -oglobo.globo.com    
 

      Amanhã, a cidade de São Paulo conhecerá o resultado decisivo que indicará o novo prefeito para o próximo quadriênio. Entre tantos competidores, sobressaíram dois desafiantes: Bruno Covas e Guilherme Boulos. Durante o tempo em que essa disputa foi preparada, muito foi dito - promessas, propostas, resultados de estudos-; também ocorreram inúmeras pesquisas de opinião que, periodicamente, foram publicados com o propósito de auxiliar ao eleitor indeciso. Mas, enfim, chegou o momento e cabe aqui fazer uma breve análise sobre cada um e os seus propósitos.

     Bruno Covas. Descendente de uma família ligada à política, tem sua base adquirida em convívio com seu avô, tradicional homem público, ativo nos anos de chumbo e um dos responsáveis pela retomada da democracia. É jovem, culto, com formação em Universidades de renome; originário de clãs economicamente abastadas, político por opção – ele mesmo afirma-, acatou em sua plataforma partes dos projetos antes iniciados, dando continuidades aos mesmos e até ampliando – em alguns casos- suas abrangências. Tem em seu favor o convívio com todo o histórico de obras antes propostas, bem como dos valores disponíveis que a Fazenda Municipal dispõe para os próximos anos, visto que está no poder há quatro deles. É filado ao PSDB.

   Já Boulos, como ele mesmo diz: tem a posição financeira estável, mas decidiu morar nas comunidades e estudar os seus comportamentos. Nela concluiu seus estudos e permanece trabalhando e participando dos movimentos oriundos de moradores que ensejam novas conquistas para um segmento igualitário tão sofrido. É chamado de agitador, de instigador, tem em seu currículo processo por invasão, protestos rudes junto com as camadas menos abastadas da periferia. Construiu a sua base eleitoral entre a população de baixa renda; prega a integração de todos em uma sociedade, segundo suas palavras, mais justa. Se coloca como porta-voz das minorias, mostra-se sensível às causas humanitárias e recebeu delas um aporte decisivo na última seleção. Surgindo como uma postura moderna do movimento trabalhista, superou candidatos aparentemente mais cotados para segundo turno. É filado ao PSOL.

As estratégias.

    Bruno, provavelmente orientado pelas velhas raposas integrantes de seu partido, escolheu para vice alguém discreto aos olhares públicos, e o manteve afastado dos programas partidários; Boulos, pelo contrário, se associou à uma candidata que tem experiência administrativa e representa o povo nordestino com suas aspirações. O resultado dessa escolha veio no primeiro turno com uma boa margem sobre o terceiro colocado.

    Nos últimos programas eleitorais, os ataques foram administrados sem envolver a imagem de cada candidato em embates diretos. A consequência do confronto público pode danificar ou enaltecer a imagem que foi cuidadosamente construída durante a curta campanha do 2º turno.  As pesquisas de opinião surgem como demonstração de apoio ou crítica; porém, a apreciação popular é muito sensível a qualquer novidade que surja, seja ela boa ou má.

    São dois pretendentes com bases opostas. O resultado da primeira etapa surpreendeu e muito com os resultados. Candidatos que tinham em seu histórico a maior votação de todos tempos, foram literalmente esquecidos. Concorrentes populares, com apoio de políticos e religiosos também não foram confirmados pela silenciosa opinião popular, que disse sim e não nas urnas.

    Nesta fase final, há outros fatores que estarão sendo julgados. Com a definição dos eleitos, o segundo turno atraiu os derrotados da primeira fase; e o que eles poderão somar ou subtrair pode ser uma incógnita. Para Boulos, a sua aprovação em primeiro turno foi significante. Se ele conquistar a prefeitura de São Paulo, terá um PIB e uma população equivalente ou superior a países do primeiro mundo. Para Covas, a sua reeleição para mais quatro anos, será como um cartão de visitas que o credenciara à gestão de São Paulo e, quiçá, do Brasil. Permanece outro fator corriqueiro na mesma competição: a de deixar o seu encargo e tentar antecipar o “andar da carruagem”, abandonando o mandato em busca de postos maiores. Ao derrotado, ele terá dois anos para arquitetar a busca pelo Estado. Já o vencedor, terá a dura incumbência de abandonar o posto e busca do sonho. Outro expoente que se evidenciará a presença do vice. Covas optou por alguém pouco visível politicamente, o que poderá pesar na urna, considerando um provável afastamento temporário seu; seja pela saúde, seja pela batalha à novos desafios. Quanto a Boulos, a presença da vice é algo mais confiável junto aos eleitores. Basta lembrar que o vencedor terá pela frente tempos de provação na luta contra a pandemia que assola o mundo.

    Há algo comum entre ambos que deveria ser uma tônica em todos os pleitos. São cultos e o que se pode esperar é que o vencedor mantenha a postura digna, uma liderança sensata, com urbanidade no trato com a população. Há muitas controvérsias no contexto mundial causadas por ideologias retrogradas, e comportamentos toscos não podem ser modelos na representatividade humana. O segundo turno é o desafio final desta etapa e, certamente, eles estão se armando para uma corrida que almeja o Planalto. A intenção de votos que ambos recebem, os coloca no páreo para qualquer cargo, e a liderança da cidade de São Paulo pode ser o primeiro degrau.

sábado, 14 de novembro de 2020

Na Ponta do Dedo.

    O ano de 2020 está sendo atípico. A pandemia real e a mal dimensionada ampliaram a distância entre eleitores e aspirantes a cargos públicos. Há contradição nas notícias tratadas pelos veículos de informação, ao mesmo tempo em que a exploração financeira e política vem confundindo o eleitor, que ainda é bombardeado pelos “memes e fake News” capazes de transformar cavalheiros em gatunos e ratazanas em celebridades.

    No dia 15 de novembro, excepcionalmente, será convocado o sufrágio universal que selecionará os militantes para a gestão dos municípios. Será uma eleição diferenciada, ansiando evitar o risco de contágio pelo Covid-19, fato que acarretará numa série de cuidados visando preservar o bem estar dos funcionários e eleitores. A disputa terá prejuízo porque as campanhas ficaram limitadas pelo distanciamento social.  A barreira que foi imposta pelo calor dos acontecimentos, no entanto, foi para todos os segmentos. Nas urnas, eles estarão testando suas credibilidades, cheias de boas intenções e promessas, à munícipes cada vez mais desconfiados.

   Em Salesópolis, são cinco os pares numa batalha acirrada pelo apoio popular. Mas há alguns paradigmas que veem sendo quebrados. Nos últimos pleitos, houve o fantasma da candidatura do vice-prefeito que acabou se elegendo. Neste ano, não. Também, por razões particulares, os antigos caciques que se revezavam na prefeitura ficaram de fora. Em seus lugares, novos pretendentes se disponibilizaram a buscar o cargo maior; haverá, portanto, renovações. Com a obrigatoriedade da inclusão da presença feminina no certame, será real a probabilidade de mais vereadoras eleitas no próximo mandato. Ainda nessa esfera de renovação, vem proliferando a expectativa de que a reeleição de alguns edis seja rejeitada pela população. Haja vista, nos EU há uma ferrenha batalha judicial para provar a existência ou não de fraudes e garantir a permanência de Trump. Isso, no entanto, trata-se de políticos que buscaram a sua reabilitação nos cargos em que se mantinham. Já no âmbito municipal em questão, não houve reeleição direta até o momento, mas é um evento que pode acontecer. Outro fato novo é o fim das coligações partidárias para vereadores, tendo o grupo que atingir um número mínimo de votos par selecionar seu representante. De qualquer forma, com cinco candidatos, o futuro prefeito terá baixa vantagem de votos sobre os demais e correndo o risco de contar com poucos defensores na Câmara, o que acarretará dificuldades na aprovação dos projetos. Portanto, os próximos anos trarão grandes desafios, assim como a pandemia que vem assolando o mundo; por outro prisma, causará a oportunidade de formar novas e atualizadas lideranças para um mundo modernizado, globalizado e digitalizado, onde tudo ocorre no tocar de dedos.

 


domingo, 1 de novembro de 2020

A Face Oculta "Do face".

 Em 2007, uma nova plataforma voltada ao entretenimento é lançada ao mercado brasileiro: o Facebook. Como toda novidade digital, ela apresentava vantagens sobre os concorrentes e, naturalmente, conquistou seu espaço.  No decorrer desse tempo, outros aplicativos vieram a se somar a ela e a privacidade social passou a ser algo público. A concorrência entre os meios modernos de comunicação – telefone, foto, vídeos, etc... -, chegou ao ponto inquietante. Não é um elo entre um nível de idade específica: nela navegam jovens, adultos e a animada melhor idade também vem se adaptando e se entregando aos prazeres digitais. Não se pode negar de que se trata de um veículo importante para a atualidade. Com ela, pode-se integrar com o planeta e, sem sair de casa. A maleabilidade com que permite o envio de imagens, áudios, vídeos, faz do Facebook, assim como outros canais eletrônicos, janelas que permitem vasculhar o mundo. Através delas, é possível saber o que existe atrás das montanhas, dos mares; todos os continentes se interagem e não há mais motivos para se sentir isolado. Basta ter uma conta em sua responsabilidade e todos os mistérios e segredos da humanidade podem estar em sua mão, num clic.

   Mas nem tudo são vantagens. Para o seu uso pleno há regras que são pelo usuário aceitas e as mesmas permitem que a empresa administradora acesse e analise os conteúdos em trânsito. Isso se deu em virtude do mal uso dessas plataformas, onde notícias falsas são propagadas com a mesma intensidade que as verdadeiras.  Haja vista o rigor com que as administradoras se impuseram, recentemente, ocultando “news” enviadas por autoridades mundiais. Após ter constatado que as “fakes” foram nocivas na campanhas eleitorais e continuaram prejudicando condutas de pessoas do bem. As provedoras admitem que, se necessário, aplicam um olhar crítico sobre o post para evitar que esse mal se expanda, orientando, mas respeitando o direito universal de expressão dos países democráticos. Todos os usuários devem atentar para o conteúdo que expõem. A responsabilidade pelos posts é de cada um; portanto, uma vez publicada, as camadas que por ele foram indicadas terão pleno acesso às suas intimidades reveladas nos arquivos, nos textos, nos subtextos; sem falar nos hackers que sondam as publicações atrás de temas e dados de seus interesses. Se a opção for ao público, todos que entrarem na plataforma terão acesso aos seus documentos, fotos e afins, e eles trazem todo o contexto psicológico com que o autor convive. As matérias, em geral, visam divertir, relembrar, expor opiniões ou alimentar o ego. A ferramenta é a ponte entre o povo e seus contatos; já para a massa, bom mesmo e um número elevado de curtidas.

  A noção de importância que as redes sociais têm na vida, entre outras coisas, nota-se quando alguém procura ingressar em alguma agremiação, ou numa entrevista de emprego. Um dos itens indagado é se o candidato faz uso de redes sociais; motivo; através delas, os analistas identificam as forças que movem o usuário como tristeza, ansiedade, aptidão política, liderança, tédio. Aquilo que as palavras não expressam, os posts contínuos demonstram de forma clara aos pesquisadores. As suas ações e reações relatam de forma sigilosa e verdadeira, as virtudes e defeitos que a educação, que as formalidades ocultam e a sua discrição tenta disfarçar. Logo, a janela que lhe descortina o universo é a mesma que expõe ao mundo o seu perfil sem mascara; com seus encantos, suas mazelas e temores. 

Quando for postar algo de foro íntimo, pense nisso!

domingo, 26 de julho de 2020

A Longa Espera.


Sobre a cadeira de balanço pairava a figura terna do velho José. O seu “Zé” de alguns, o “tio Zé” de outros. O olhar cansado de tantos anos buscava no vazio, mas “ela” não estava. Nada além da brisa vespertina que dava movimento às samambaias em seus xaxins.
 Envolto em seus pensamentos e com os óculos sobre o nariz, momentaneamente desviou sua atenção e agora se esforçava para ver o que a revista juvenil de sua neta mostrava. Era algo sobre flacidez e fornecia alguns exercícios localizados para eliminar tal desconforto. O que mais lhe chamou a atenção foi o corpo nu da modelo. Deitada de bruços e ocultando dos flashes as partes “vitais”, a jovem era de escultura perfeita e totalmente bronzeada; fato esse que o fez recordar de um ocorrido num passado distante. Aos dezoito anos e com o casamento marcado, acabou por ser vítima dos amigos da época que lhe aprontaram uma surpresa. Meses antes do enlace, promoveram uma festa na cidade - num quarto de hotel para ser mais exato-; queriam saber de sua opinião sobre as condições de aluguel daquele cômodo. Embora estranhando o convite, aprovou as condições crendo que seria um bom negócio e isso foi motivo para uma alegre comemoração. Ficou intrigado pelo fato de serem pessoas simples, mas optaram por bebidas caras chegando, até mesmo, a um legítimo “blended” escocês. Não tardaram as consequências; os olhos turvavam, as pernas ficaram bambas. Era hora de parar. Outra nova surpresa: ninguém protestou e ordeiramente foram saindo, um - a – um, até que o último lhe pediu que apagasse a luz do banheiro. Com a mente confusa obedeceu e, num único toque, impôs o breu àquele cubículo anexado ao quarto. Voltou e se dirigiu à porta, mas ela havia sido fechada por fora. Ocorreu-lhe a forte sensação de que “ela” estaria ali. Perturbado, olhou em volta, mas antes que chamasse por alguém, o que viu o fez estremecer. Uma mulher, toda maliciosa se irrompeu pelo ambiente e o agarrou. A princípio, tentou desvencilhar-se. Fervilhava na mente o desabono do padre Azevedo; podia ver sua mãe, em prantos, fazendo penitência; sua noiva o desprezaria..., mas era tarde. Com apetite voraz aquela esfomeada o devorava literalmente. Na inútil tentativa de repeli-la, lembrou dos amigos que, com certeza, estariam por perto a observá-lo. Deu-se por vencido e, pela primeira vez, sentiu que seu espírito foi elevado pelos confins do espaço cósmico. Só mais tarde, quando recobrou a consciência, foi que notou que ela ressonava de bruços, tal e qual aquela modelo da revista, mas, com uma ressalva: não era o tipo ideal para aquele anuncio. Com os maus tratos das noites, as bebedeiras, as extravagâncias, fizeram com que seu corpo, apesar de jovem, ostentasse todos os defeitos que as mulheres detestam e os homens condenam: estrias, celulite, gorduras localizadas. Mas, afinal, que diabos estava ele pensando nestes disparates?... se autocensurando, chegando até a ruborizar as faces, fechou a revista, livrou-se dela e mudou de lugar.

Lá dentro, os netos fazem a tradicional arruaça; os meninos usam argolas nas orelhas; vivem coçando a virilhas, ouvem músicas barulhentas - dizem que é moda - mas, se ocorre um momento sequer de distração, os olhos buscam no horizonte e, em silêncio, indagam: “ela” estaria lá? Reina a inquietação de que tanto lhe ocorrera nas inúmeras noites, desde a infância.

Depois da fatídica experiência daquele quarto de hotel, casou-se e viveu intensamente aquela união. Em nenhum momento, porém, distanciou-se “dela”. Na chegada do primeiro filho, enquanto sua esposa agonizava nas contrações, percebia-se “sua” presença. Outros vieram, filhos e filhas, somaram-se doze; todos saudáveis e sapecas. Em todos os nascimentos, surgia como uma ansiedade, um arrepio; era a “sua” presença. Lá, nas grandes navegações, nos cultos pagãos, nas guerras mundiais “ela” estava. Bastava despontar alguma duvida, “algo” espreitava. Em todos os aglomerados, estádios de futebol, trens lotados; onde há vida, há a “expectativa” e isso já o acompanha há muitos anos.

 Num dia muito triste sua esposa deixou seu convívio. Complicações múltiplas fizeram-na expirar. Com a sua partida, muito se chorou, mas o tempo se encarregou de atenuar todo o desconforto e as mágoas foram estancadas. O acúmulo de anos o fez compreender que a partida de alguém é algo tão natural quanto a sua chegada. O que leva as pessoas se apegarem as outras, como se fossem suas, nada mais é do que a ação do egoísmo e da ignorância. Na vida, nada nos pertence! Tudo gira em torno de uma Força Maior que a todos coordena e os dota de talentos natos para que deles utilizem. Ninguém, portanto, é propriedade de ninguém. A terra é imensa e os homens necessitam de tão pouco para viverem. Há espaço para todos e os grãos e as hortaliças, se semeados em épocas apropriadas e cuidados com presteza, produzem em abundância. Bom para as pessoas é ser livre, ter companheirismo, calor humano, mas tudo isso é gratuito e se renova em seu interior. O que os faz perecer são as aglomerações e as disputas por lideranças. Nestas questões, invariavelmente “ela” está envolvida. Que o digam os movimentos militares, sociais e políticos, os protestos de ruas onde os jovens eram chamados a povoar os parques, as ruas, sempre obedecendo às doutrinas ministradas por lideres que almejavam e conseguiram os seus intentos. Hoje, são presidentes, governadores, figuras condecoradas e, a massa heterogênea que repetia em coro as palavras de ordem, continua lá, obrigada a pagar em dia seus tributos e a ver os chefes, com suas armações, sangrarem a força que move o mundo. Pediram apoio e retribuíram com medidas provisórias, decretos que freiam as ideias realmente sociais. Investiram no futuro, enfrentaram todos os obstáculos; mas, no afã de vitória, esqueceram de um mundo fantástico que ainda espera para ser desbravado. Oculto nos planaltos e serras, repousam cachoeiras cristalinas, ares puros e céu que na noite quase sempre é estrelado; fontes vitais que proporcionam ao ser humano o que ele mais necessita: qualidade de vida.

A posição em que se encontrava se fazia incômoda. Descruzando as pernas, vê que uma de suas netas se aproximava, lentamente, como que se esperasse uma ordem para entrar no mundo místico do avô. Ostentando o corpo já formado, reluz o piercing no umbigo devido à blusa curta e a calça de cós rebaixado e ostenta nos olhos o fogo do desejo. É esperta, uma garota normal para a sua idade. Lentamente se ajeita ao lado do velho e fala de suas aventuras, de suas esperanças para com o futuro, onde a grandeza e o exagero estão presentes. Todo jovem é assim. Almeja muito, mas a vida vai modelando e priorizando os fatos mais importantes. Os contratempos são necessários para que o espírito não se perca em coisas fúteis e possa amadurecer cultivando cerne em seu interior que o galvanizará nas quedas diárias. Confiante, ela ajeita os cabelos e, beijando carinhosamente o avô, o deixa com seus pensamentos.

Todas as lutas e desejos são obras oriundas das concentrações desordenadas que favorecem a ambição e, essa gana, acaba por roubar-lhes os momentos mais marcantes. Tudo é passageiro, mas as boas e más lembranças perduram. Com olhar distante e sentindo o cansaço de sete décadas de trabalhos, prazeres e dificuldades, ele mantém sua viagem no mundo das ponderações. Hoje, entretanto, “ela” que sempre o aguardava no dobrar da esquina, no ruído do sótão; agora, se faz cada vez mais presente. Está por trás dos conflitos do Oriente Médio. “É” a coragem obcecada dos ‘homens e mulheres bombas’ que aterrorizam Israel. Está oculta no ódio, no temor americano e foi uma das  causadora das lágrimas em Kandahar. É possível “senti-la” a cada instante. Já se manifesta em seus membros; é a companheira das longas noites; é o temor do cão-vigia que ladra, a parceira do quarto escuro ou dos sons emitidos pelos seres noturnos. Dos sonhos, é a realidade; dos devaneios, a sensatez; é o fim de todos os ideais. Só no apogeu dos anos foi possível ver quão ditosos foram os dias do amanhecer ao pôr do sol. Quão gratificante foi ver os filhos crescerem e se multiplicarem. O que dizer das memoráveis tardes de verão ao lado das grandes amizades?... A vida tem sentido e se faz maravilhosa quando é compreendida, mas nada é eterno! É necessário remover o tronco para que o broto frutifique. É fundamental substituir o velho para que o rebento floresça. O sol tem que ser por para que a nova aurora desperte. Assim, quando “ela”, a morte, em sua hora, impor os seus desígnios, que seja de forma natural e tranquila, como a brisa de verão ou como o revoar de gaivotas por sobre o banhado em direção ao poente. 

Depois da batalha, aos vencidos pela labuta diária, enquanto aguardam na urna, retomam o semblante de crianças saudáveis quando repousam;
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pois dos mortos, até os mais ferrenhos inimigos compadecem. Jazem com eles as ganâncias, as divergências, os atos aparentemente premeditados, as maldades incontroladas. Os contrastes ocorridos foram choques de opiniões, visto que o mundo, com suas inquietações, gerou neles o desejo ardente de unificá-lo. Além do mais, os humanos, mesmo diferenciados e incultos, têm em si a mesma origem. Uma vez tombados e adornados, retomam a essência divina. Mesmos os mais agitados, quando ali se encontram em paz, assumem a verdadeira identidade: não passam de anjos; seres que foram contrariados na busca de seus verdadeiros ideais.

- ‘Vô’!...Vem jantar! A neta lhe chama. É hora de despertar e retornar de sua viagem. Reunindo suas forças e arrastando a sandália, o ancião segue ao encontro de seu maior tesouro: a família.