quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Na idade do lobo. (Geração boca de sino)

fundosanimais.com (google)
 O futuro chegou. Após anos de aprendizados, chegar aos quarenta, cinquenta, sessenta anos significa apossar-se da melhor fase da vida. Muitos intelectuais concordam com essa afirmação e têm lá suas razões. Não se trata de uma postura que todos tenham que assumir; outros fatores – biológico, emocional, educacional, religioso, classe social – interferem antecipando ou retardando essa conquista. Com uma expectativa de vida em torno dos setenta anos, no Brasil, atingir esse limite significa estar avançando para o fim de uma estrada desconhecida, mas necessária. O certo é que o homem ou a mulher, quando atingem esse patamar mostram-se mais tranquilos. Todos os “quarentões” ou “quarentonas” já superaram provações que lhes deram experiências. É um caminho sem volta. Mas nem tudo é tristeza. Atingir a maturidade é uma conquista. Todos os lobos, quando adultos, conhecem o terreno por onde pisam; são senhores dos pormenores das coisas boas da vida. Como já dispõem de um papel definido na sociedade, sabem que agora já não há espaços para sonhos e sim para a realidade. Ciente de que a vida já definha, as lutas são direcionadas para os mais belos ideais. Há, no entanto, o lado triste da história. Nessa etapa o organismo cobra os efeitos das tardes ensolarada da adolescência, da cuba libre, das noites da Disco, das experiências com as drogas leves, da exagerada busca pela vida sexual limitada pelo avanço das DSTs no final do século passado. Outra ducha de água fria que cai sobre os homens é o câncer na próstata.
As dificuldades orgânicas femininas são superadas. Elas, desde cedo, são obrigadas a se exporem aos cuidados médicos; portanto, na chegada da menopausa, suas conseqüências são menos dramáticas. Ao contrário, os homens enfrentam outra dura prova. Por terem sido criados nos hábitos severos do machismo, o preconceito de se expor ao desafio do toque retal os atormenta. Uma ampla campanha esclarecedora vem sendo feita para que eles entendam a necessidade da prevenção. Não contido em tempo, o câncer é uma moléstia que causa muito sofrimento ao paciente e aos familiares. Logo, prevenir é poupar dores e transtornos; isso, sem falar na probabilidade maior de óbito prematuro. Sensato é todo aquele que estiver entrando nessa faixa etária, deixar se levar pelos benefícios da prevenção e partir em busca da cura desse sintoma que, quando agravado, oferece resistência. O toque retal masculino, hoje, é um ato de superação e, acima de tudo, de sabedoria.

Geração Boca de Sino
foto- 180graus.com (google)
No linguajar da adolescência "setentista"(gíria dos anos setenta) seria mais ou menos assim: Pô, pra que ficar “encucado”, irmão; para quem já teve uma “cuca legal”, “ser ou não ser” é melhor “tar por cima”. Todo “pão” tem que “dar um rolê” e levar “um léro” com sua “pantera”; com um “papo legal” e sem “caretice”, falar com ela das suas ansiedades. Nada é tão “chocante”.” Contando com o apoio da “gata” tudo vai ficar “às pampas”! “Bicho”, não vai “dar bóde”! Todo doutor é profissional e cada diagnóstico é apenas mais um no consultório dele. “Podes crer amizade", tudo vai ficar “numa boa”; então, “qualé o grilo”? É um “grande barato” “tar ligado” na saúde, "sacô"!. É hora de se deixar “fazer a cabeça”. Saia do “sufoco” e antes que a coisa fique “russa, podes crer que a galera tá contigo e não abre”. “Se liga” no vai e vem das ruas. O estilo Boca de Sino e temas ligados à moda da época estão de volta. Veja quanta “tigreza” expondo o umbiguinho, a “barriguinha” sexy, valorizando as camisetas, os cabelos soltos e com barras de quarenta centímetros montada num “plataforma”. É "isso aí"! “Não fique só na sua, caia na estrada” e procure “curtir a vida’.“É legal” “tar por dentro” das novidades. Como a moda, os hábitos foram revistos, é hora de voltar no tempo; e, sem ser “patrulhado”, "sair por aí". Ainda há muito para se viver daquela “paz e amor” que se pregava na juventude, falô”!.

Na idade do Lobo. (Geração Boca de Sino)  março de 2005- Jornal A Notícia de Salesópolis.

sábado, 15 de outubro de 2016

O telão

 (À todos aqueles que se dedicam (ou dedicaram) à difícil arte de educar e a fazem - ou fizeram - com responsabilidade).
Uma tela na parede; muda e sem vida.
O auditório também era pequeno, muitas vezes, grande para um número de pessoas que vinham ocupar seu espaço. Não que houvesse restrição, mas pela falta de interesse ou de tempo e tantas coisas banais que contribuíram para que uma quantidade reduzida de indivíduos se propusesse a assistir, a ouvir e entender os sons emitidos durante qualquer imagem.
A tela inerte, que estava muda, ao toque humano e pela ação do giz ganhava vida. Nela, surgiam gráficos, mapas, palavras exóticas, coisas do passado; Roma de Júlio César, Grécia de Pitágoras, antigo Egito.
Os operadores se renovavam, o telão se tornava mágico indo além do auditório. Influenciava a vida nas ruas, nos casebres, nas mansões; chegava ao dia-a-dia e avançava para o futuro levando consigo os expectadores a tomarem novos rumos em suas vidas.
Por trás da calma rotina, evidenciavam-se os artigos científicos; o átomo; as combinações dos elementos; as relações humanas; o avanço espacial; as descobertas de Colombo; o mundo atual; as chances de cada continente; a probabilidade dos ataques nucleares; os avanços científicos; as novas moléstias; os antídotos; do “bê-á-bá” à física quântica; frutos dos anos de faculdades eram expostos de forma ininterrupta.
O mundo e suas situação geográfica; a vida de um modo geral; a localização dos povos; os regimes aos quais eram submetidos; os abusos antinaturais cometidos pelo homem e as suas consequências; os desertos, as savanas, mares e animais em extinção.
A arte de adicionar recursos, multiplicar esforços, subtrair egoísmo e dividir as responsabilidades.
Nos intervalos, cenas de amor, imagens de sonhos e fantasias; a euforia da idade das espinhas, do “selinho” escondido; uma gaivota a voar, a onda a invadir a praia...
No epílogo, os países em conflitos; a morte pela fome, as perseguições e a marginalização; ao fundo, um cenário azul escurecido pelas fumaças vindas do progresso.
O objetivo de tanto esforço, era dar às crianças condições de vencerem as provações do cotidiano. Com o passar do tempo, os meninos cresceram e foram emoldurando seus dias nas informações que aprenderam nas aulas e no convívio com os demais amigos. Adultos, estão colhendo os frutos da aplicação das horas dedicadas ao aprendizado.
Quanto aos mestres, muitos caíram no esquecimento. O passar dos anos, os levaram por caminhos alheios as suas vontades. Questões políticas, cartéis, nortearam seus destinos em busca de seus objetivos.
Neste quinze de outubro, é a oportunidade de rendermos  homenagens aos nossos professores. Pessoas que abraçaram a dura arte de ensinar e a fizeram com esmero. Aqueles que nos acolheram numa época em que nos perdíamos em ideias, e fizeram da nossa formação o seu ideal.
Foto: publicdomainvectors.org (google)




sábado, 1 de outubro de 2016

Pastores e lobos.

Um homem e seu cajado. Essa é a figura tradicional do pastor. Tem a responsabilidade é zelar pelo seu rebanho. Sua missão é cuidar pela integridade do grupo; salvá-lo dos ataques dos predadores, socorrer as fêmeas nos partos, sanar os feridos, levá-lo ao córrego para saciar a sede, garantir-lhe, enfim, segurança em pastagens abundantes. Mas, para isso, constrói-se cerca de arame farpado para impedir a fuga dos seus protegidos. Vivem presos: pastores e carneiros
obramaranata.wordpress.com 2011
em seu aprisco e obrigados a conviverem uns com os outros.

Tal qual uma manada, os homens também são obrigados a se inclinarem perante líderes que se dizem zelosos pela sua felicidade. As necessidades são parecidas. Humanos dependem de espaços, liberdades, aprendizados; de alguém que cuide de suas chagas, que lhes proporcionem alimentos de boa qualidade. Contudo, para o cargo de dirigente deve-se ter sobriedade, ser respeitado por sua conduta, ter bom diálogo e índole incontestável. Ele tem que conhecer as necessidades de seus conduzidos e, juntos, buscarem o bem comum. A realidade, entretanto, mostra-se contraditória. O rebanho humano há muito vive disperso. Isso os tornou preconceituosos, marginalizados, gananciosos. Por serem mal administrados, se apegam aos subornos, ignoram o óbvio e se proclamam autossuficientes. Na verdade, comem na mão de falsos condutores e rezam para que amanhã seja um novo dia...
O pastoreiro, se a ovelha é arredia, amarra-lhe as pernas, fere no focinho, mete-lhe canga para que não fuja. Quanto às pacíficas, rouba-lhes o leite, a lã e as crias.
Os líderes humanos, com as omissões evidentes, permitem que os apriscos duelem entre si criando facções ideológicas, chantagens e latrocínios. Dos que sobrevivem, sangram-lhes os bolsos com propinas, impostos e taxas exorbitantes. Negam-lhes a cultura e os mantêm acuados, sem empregos, sem destino e confinados na vala do subdesenvolvimento...

Típico de todo pastor, o qual cuida do seu rebanho não lhe visando a felicidade, mas tão somente a tosquia e o abate!