sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Parabéns Salesópolis.

spglobal.com.br
São 177 anos de um progresso lento e cheio de solavancos. Devido a sua localização geográfica, Salesópolis sofre com as dificuldades na busca por sua independência econômica. Apesar de ser uma Estância Turística e basicamente estruturada na monocultura do eucalipto, nos produtos hortifrutigranjeiros e na prestação de serviços, seus cidadãos vivem no limite entre a criatividade e o improviso para acompanharem as mudanças do mercado. Mas nem tudo é tristeza. Apesar das dificuldades típicas da região, eles têm em mãos uma grande reserva de floresta renovável e uma considerável disposição para explorá-la. Se surgem imprevistos, eles partem em busca de novos rumos. São guerreiros que despertam antes do amanhecer e não fogem da luta. Além disso, são ambiciosos, comedidos (apelidam a todos que encontram), saudosistas, religiosos – provavelmente é uma das cidades que mais contribuíram com a formação de padres para o catolicismo-, sonhadores, barulhentos, festeiros e, ao mesmo tempo, acolhedores, solidários e amigos.
Qual seria a melhor data para comemorar o aniversário da cidade? A história afirma que o seu reconhecimento se deu no dia 28 de fevereiro de 1838; porém, seus limites geográficos foram pré-demarcados na data em que ela se tornou Capela Curada, em 25 de outubro de 1831; se fosse considerado a data de formação da primeira comunidade, então seria em 25 de fevereiro de 1813; mas a sua emancipação política só se deu com a primeira composição Camarista da Vila formada em 02 de dezembro de 1857.

 E então: qual data mais se aproxima da realidade desse povo?...Agora. Esse é o momento. Então, parabéns!

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

São Jozé do Parahytinga: duzentos e dois anos de história.

Tamoios - google
A região alta dos rios Paraitinga, Tietê e Claro, quando se tornou conhecida dos colonizadores, era cortada por trilhas milenares traçadas pelos nativos. A principal delas interligava a atual cidade de São Paulo -via Ubatuba- ao Rio de Janeiro. Era Rota dos Guaianazes conforme descrição feita num relato no site de Paraibuna. *“O antigo caminho dos Guaianases, que ligava o Rio de Janeiro a São Paulo, unindo as tribos de serra acima às do litoral. Saindo de São Paulo de Piratininga, subindo o rio Tietê, passando pela freguesia da Penha de França, São Miguel, Mogi das Cruzes, atingia suas nascentes, descia-se passando-se pelo bairro do Roseira, seguindo a corrente do rio Fartura, passava por sobre a sua foz desaguando no Rio Paraibuna, seguia em direção à Natividade da Serra, em direção à Ubatuba e seguia-se acompanhando o litoral até Paraty e Cabo Frio, Angra dos Reis, deste ponto até o Rio de Janeiro, a antiga aldeia de Uruçumirim”
Padre Anchieta- Google.
No século XVI, os jesuítas da Companhia de Jesus travaram os primeiros contatos junto ao litoral e, por conseguinte, com os planaltos que se estendiam além serra. O próprio site afirma que _*(Pelas margens do rio Paraibuna passou o próprio padre José de Anchieta, que aquí esteve no ano de 1561 na esperança de apaziguar os índios Tamuya (Tamoio) que levavam perigo constante aos fazendeiros de São Paulo de Piratininga). Em Salesópolis, por exemplo, ela despontava da cabeceira do Paraitinga, guinava para a margem esquerda do Tietê e nela permanecia.
Com o extermínio dos Tamoios permaneceu o caminho que interligava os vales do Tietê e do Paraíba. A partir de 1611, quando André de Leão partiu com sua Bandeira desbravando, reconhecendo e povoando todo o vale, estava lançada a busca pela colonização da região leste. A cada núcleo assentado novos caminhos se dirigiam em busca da antiga rota que estava consolidada até o litoral.
Entre os achados, o ouro foi o grande atrativo comercial. Por ser uma cobiçada moeda comercial, muitos aventureiros para cá vieram e, com eles, os piratas, exploradores que depredavam as riquezas naturais.    
Visando um maior controle da exploração econômica, Portugal mudou a capital da Província que era sediada na Bahia, para o Rio de Janeiro. Incentivou, através de decreto, a colonização dos acessos ao litoral o que fortaleceu o contato entre os “sesmeiros” da região leste de São Paulo de Piratininga.
Desde meados do século XVIII que os jegues haviam sido inseridos nos transportes, a velha Rota dos Guaianazes e seus inúmeros acessos, com o passar do tempo, foi demarcada em pontos de descanso em trechos compreendidos entre vinte e trinta mil metros. Um desses pontos, improvisado há uma légua do tradicional pouso, em função do entroncamento com outras trilhas que vinham do Vale, prosperou.
Igreja - Foto Faria
O ponto de encontro, na verdade, foi um acontecimento normal do aumento populacional. Vinda do Alto Paraíba, a trilha milenar cruzava com o bebedouro, que hoje é denominado córrego do Padre Manoel, seguia em direção ao Rio Tietê. Por ser um caminho de nômades, buscava sempre as várgeas e, naquela altura, recebia os novos viajantes dos assentamentos em formação.
Em 1808, a vinda da Família real para o Brasil, D.João VI criou leis que possibilitavam o comércio e aumentou a tributação para o Império. Com a presença de portugueses, a prática religiosa não ficou a margem. Assim, nessa pousada, em 25 de fevereiro de 1813, a Cúria Metropolitana determinou a criação de uma pequena Comunidade, consagrada a São Jozé, ao lado do Rio Paraytinga. (Igreja localizada no centro da antiga sede)

Bantos - Google
Em 1831, dezoito anos após a sua fundação, a capela passou a categoria de Curada. Utilizando o critério de divisor de águas, delimitava as suas divisas.
Em 1832, o padre Manuel de Faria Dória inaugurou uma picada que cortava caminho interligando o Vale do Paraíba direto ao Porto de São Sebastião. A comunidade elevou-se a Freguesia pela Lei n.º 17, da Província de São Paulo, no dia 28 de fevereiro de 1838.
Em 21 de março do mesmo ano, visando à construção de uma capela, em homenagem ao padroeiro, foi feita por Antonio Martins de Macedo (Aranha) ao cidadão Domingos Freire de Almeida e outros a doação de uma área onde se localiza, nos dias de hoje, a Praça Pe. João Menendes até o Posto de Saúde.
A 14 de abril de 1838, os alferes José Luís de Carvalho e Francisco Gonçalves de Mello, o capitão Alecho de Miranda e o Sr. Domingos Freire de Almeida compraram, do mesmo Antônio Aranha e herdeiros, uma área correspondente a oito quarteirões (região que compreende o terreno dos Carmonas, Margem do Rio Paraitinga e Vila Henrique).
 Em 09 de março de 1839, o Padre Manuel de Faria Dória assentou a pedra fundamental da nova igreja matriz (dentro da propriedade coletiva). Ainda em 1839, escravos, enquanto debulhavam milho, assassinaram o senhor escravagista Alferes José Luiz de Carvalho.
Através de escritura pública de 06 de agosto de 1841- livro n.º 27- fls.47 a 48, Francisco Gonçalves de Mello, Alecho de Miranda, Domingos Freire de Almeida e Floriana Rodrigues de Jesus, doaram a antiga propriedade do Aranha para a servidão pública. Devido ao caráter social dessa atitude, são considerados benfeitores do povoado de São Jozé do Parahytinga.
A facção Liberal liderava o Ministério do 2º Reinado, mas foi substituída, em 1841, por um grupo Conservador. Os Liberais, derrotados sob a acusação de fraude eleitoral se revoltam. Como resposta, preocupado com o avanço das guerrilhas que cresciam no sul e sudeste do país, o Imperador determinou vigilância nos acessos ao mar. Com isso, a Freguesia de São José do Paraytinga passou a ser um Distrito Policial, com a interdição da Picada Dória, em 1842.
Com estreita relação com o próspero Vale do Paraíba, São Jozé foi se adaptando às novas necessidades. O avanço político mostra a Lei Provincial n.º 9, de março de 1857 da Assembléia Legislativa Provincial eleva, para a categoria de Vila, a Freguesia de São José do Paraytinga e obriga os seus habitantes a construírem a sua Casa de Leis. A primeira composição Camarista da Vila foi formada em 02 de dezembro de 1857.
Em 1866, fazendo valer a sua autoridade, a Câmara Municipal elaborou um documento que regulamentava, em caráter, oficial as divisas do município.
Bento Claro. Foto Faria.
O café é a força econômica paulista e São Jozé do Parahytinga um forte coadjuvante. Em 1870, com a inauguração da estação ferroviária na atual Guararema, abriram-se novas perspectivas. Segundo as narrativas de velhos tropeiros, a caminhada até Mogi os obrigava a pernoitarem para atingirem o comércio de Mogi das Cruzes; com a abertura da estação as margens do Paraíba esse trajeto era feito em um dia. Esse itinerário permaneceu até meados do século XX. Com essa conquista, ricos proprietários avançaram pelo alto Tietê e arredores.
Campos Vergueiro. Divulgação
Em 1874, a população duplicava, pulando de 1.935 para 4.103 habitantes. Um documento distribuído pela Igreja católica mostra que, só neste ano um pároco - Bento Claro - passou a residir na vila.
Em 13 de maio de 1888, a escravidão foi extinta. A falta de mão de obra levou os senadores a buscarem alternativas. Então, em 1889, baseado numa experiência do senador Nicolau de Campos Vergueiro, aprovaram a Lei das Parcerias, o que possibilitou a vinda de imigrantes para trabalharem como colonos em regime de meeiro. Cumprindo a exigência de terem profissão definida, pousaram em São Jozé do Parahytinga e adjacências pessoas das mais diversas atividades. Vieram os grandes artesãos da culinária (queijos, massas, bolos, carnes), da madeira (linha, vigas, caibros, tábuas, esquadrias, acabamentos, carros de bois, charretes, portas e janelas colônias), da cerâmica (tijolos, pisos artísticos). Este núcleo estava em franca ampliação pelo território, formando a pequena classe média. Fundaram-se escolas em que os professores ensinavam gratuitamente. Como prova dessa conquista, temos a professora Henriqueta Pereira que, em 1886, dava início, aqui, as suas atividades.
Mestra Henriqueta. A.E
Campos Sales. Google.
Mais uma vez a força do Vale do Paraíba volta apesar nas decisões políticas e, através da Lei Estadual n.º 470, de 20 de dezembro de 1896, o município passa a pertencer à Comarca de Santa Branca. Na sessão da Câmara Municipal da Vila, do dia 08 de junho de 1900, os edis solicitaram ao Governo Estadual a alteração do nome do município de São Jozé do Parahytinga. Segundo a justificativa dos legisladores, o desvio de correspondência entre São Jozé do Paraytinga e de São Luiz do Paraytinga causava transtornos. Assim, os Joseenses do Paraitinga desejaram homenagear Manuel Ferraz de Campos Sales, o que ocorreu, oficialmente, em 16 de novembro de 1905. Para a nova denominação, o município buscou inspiração na Grécia. Salesópolis significa “Cidade de Sales”.

Dados estatísticos conforme pesquisas de André R. da Silva, Google,
Graciete Miranda de Souza, Geraldo C.dos Santos, Revista
Salesópolis , jornal A Caminho, Foto Faria. *www.paraibuna.sp.gov.br/ história


sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Uma família e duas guerras.

João Nunes dos Passos.  A. Familiar

Para atuar na Revolução Constitucionalista de 1932, o jovem João Nunes dos Passos foi convocado. Nos meses seguintes, atendendo às ordens militares, cumpriu todas as tarefas que lhes foram ordenadas. Após a derrota dos paulistas frente às tropas federais, embora traumatizado por tantos riscos, foi retornando, aos poucos, à sua vida de camponês. Das tantas agitações, nada sobrou; motivo: devido a sua extrema humildade, ele não sabia que fazia jus a documentos que comprovassem a sua estada no Exército; e a falta desses papéis impediu o seu acesso a uma remuneração vitalícia pelo feito.
Abílio Nunes dos Passos. F.F
Já na Segunda Guerra Mundial, um de seus irmãos também fora convocado: Abílio Nunes dos Passos. Como de praxe, foi obrigado a cumprir todas as exigências militares, fez os treinamentos no Brasil, mas, por um desencontro nos dias que antecederam ao embarque para a Europa, ele seguiu e permaneceu em outra Companhia. Uma vez na Itália enfrentou os alemães e foi o único salesopolense a tombar no Monte Castelo. Segundo o saudoso pracinha Pedro Flóes de Oliveira, “a FEB lutou na véspera da conquista do Monte Castelo e, com outros combatentes, tiveram grande importância ao dominarem pontos estratégicos que levaram a derrota daquele Forte Alemão. Mas, como consequência, houve um número grande de baixas entre eles; por isso, no dia seguinte, foram orientados a permanecerem em prontidão, mas em segurança”. 
Naquele que foi o dia da vitória - esperada por meses - a exatos setenta anos (21.02.1945), dos vinte salesopolenses em Campanha, só o soldado Abílio combatia e acabou assinando com seu sangue aquele sucesso. Após o triunfo, seus restos mortais permaneceram no cemitério de Pistóia até serem trazidos para o Brasil.
João Nunes dos Passos. C.V
Cemitério de Pistóia. Google.
  Seu João, sobrevivendo somente com a pensão da Previdência Social e o apoio dos amigos e familiares - ele só lembrava de que seu número era 1077-, encerrou os seus dias, em sua casinha nas montanhas.
À família enlutada cabe a sensação de dever cumprido, e as nossas eternas condolências!