domingo, 31 de dezembro de 2017

Expresso 2018.

Em meio às atribulações das ruas, José corria em direção à estação. O trem estava partindo e ele tentava alcançá-lo. Seus parentes, já embarcados, chamavam: - “Corre José! Largue essas bolsas e apresse o passo! Você vai perder o trem”!
google casseta.com.br
Desesperado, ele não via outra maneira de andar mais rápido. Trazia consigo muitas malas, contrário a tantos que só usavam a roupa do corpo. Mas ele não conseguia se desvencilhar delas e as arrastava pelas calçadas. O que ele transportava era algo pessoal, coisas íntimas que os melhores amigos condenavam e nada faziam para socorrê-lo.
O trem já estava estacionado e as pessoas, em grande contingente, iam se acomodando. Todos que chegavam encontravam lugar e a passagem era gratuita. Chegou a hora e a composição partiu. Ela tinha hora certa para sair, pois tem hora para chegar. Em meio a lamentos, José não pode embarcar.
Sozinho na plataforma, vendo que os últimos vagões sumiam na primeira curva, ele sentou e permaneceu em silêncio. Sentia-se desprezado, ignorado pelas amizades. Remoía as palavras da família para que ele abandonasse suas tralhas e alcançasse o trem. Tardiamente começou a examinar seus pertences e a separar o que era desnecessário para aquela viagem. Não demorou muito e a plataforma estava cheia de peças que não precisavam estar ali. Guardados seus, coisas pessoais em desuso; vestimentas fora de moda que por engano foram postas no baú. Cada uma tinha uma história e merecia ser preservada, mas salvar algo é útil quando isso não se torna um transtorno na vida, e aqueles pertences o fizeram perder a viagem.
Tomado pela emoção, decidiu a muito custo abandonar tudo aquilo que era um estorvo. Movido de impulso, separou o que era inútil enchendo as lixeiras do lugar. De todas as suas posses sobrou uma pequena bolsa de mão e ele, decidido a mudar de vida, voltou para casa.
Mais uma vez o final de ano chega e aquele trem estará de volta. No dia trinta e um de dezembro, a meia noite, ele parte. Não espera por ninguém, pois seu destino é inadiável. Por ser imaginário, ele comporta a todos que tiverem disposição, determinação; que forem solidários e preparados para uma aventura baseada em altos e baixos, expectativas e conquistas que serão concedidas a quem estiver na viagem. Estende-se pelas doze estações que o separa da partida e a chegada. Por ser um passeio, prático é nada levar além de malas para serem preenchidas. Enquanto a hora não chega, deve-se avaliar aquilo que se pretenda usar nessa turnê. Há tempo para que se abra mão do que é supérfluo, ver se sua bagagem não está repleta de coisas fúteis que impedem a sua integração ao grupo. Ignorância, omissão, imprudência, mesquinharia, são cargas emocionais que, fisicamente, não ocupam espaço, mas podem retardar qualquer avanço na confraternização universal. Portanto, para embarcar nessa viagem, basta desarmar o espírito, envolver-se pelo desejo de mudança e buscar pelo trem.
Na entrada do novo ano, o Expresso 2018 atracará e acomodará a todos aqueles que quiserem viver uma grande e promissora aventura. Para tal, basta que esteja preparado e na estação!

Boa viagem!

Publicado no ano de 2010, no jornal -A Notícia - de Salesópolis, e reeditado em outras ocasiões.

segunda-feira, 25 de dezembro de 2017

Um Papai Noel de verdade. (Homenagem póstuma)


É com pesar que comunico o falecimento do senhor Francisco Wuo, ocorrido hoje, pela manhã, em sua residência. Seu corpo está sendo velado no necrotério local.

Em sua memória, reedito a homenagem que fiz na época de sua condecoração de Emérito Cidadão Salesopolense, em 2007.

Um Papai Noel de verdade.

Vivemos no final do ano a euforia do Natal. Sempre foi assim. As propagandas criam uma atmosfera natalina que contagia a todos. É época de festas em que as mesas, mesmo nos lares mais humildes, são fartas. Data que se aproxima as pessoas, época de restabelecer a paz, as amizades e unir o que ficou pendente durante todo o ano.
Neste ano, (2007)porém, há mais um motivo para comemorar. O poder público local reconheceu o trabalho de um cidadão que há muito faz jus. Seu nome: Francisco Wuo, filho dileto desta terra que muito a honra com seu trabalho e dignidade.
É um ser privilegiado. O destino lhes reservou dádivas e responsabilidades equivalentes. Duas correntes sociais distintas contribuíram para tal. Seu pai, de origem finlandesa, trouxe da Europa o conhecimento científico, o gosto pela natureza, a liberdade e o respeito pelo semelhante; sua mãe era nativa do berço da sociabilidade característica, das tradições do lugar. Assim, teve uma educação de primeiro mundo e uma forte tendência às artes e a religiosidade; catalisando essas forças, fez-se um homem equilibrado, ao mesmo tempo lutador e ponderado, participativo e democrático.
De tantos feitos de “seu” Chico já publicados, enumerar outros tantos não significa o fim de uma história. Embora os números por ele apresentados sejam expressivos, seu trabalho ainda não encerrou.
A prova disso foi as tantas cestas de natal que ele arrecadou junto as seus colaboradores. Para centenas de lares da região, a presença de sua equipe é a certeza de que as bondades dos sentimentos ainda estão em moda. Contrário ao papai noel comercial, sua luta não se resume as vésperas do Natal, é permanente. Durante todo o ano sua presença foi requisitada na Conferencias Vicentinas, no Asilo, nas comunidades onde ele atua como Ministro da Eucaristia.
Compará-lo ao verdadeiro Papai Noel é justo perante as tantas ações humanas que ele fez no decorrer do ano e de sua vida. Dotado de imensa riqueza espiritual, de discernimento, compreende a inocência, os entraves da política e traduz em palavras mais de um século de história. Traja a elegância do primeiro mundo, mas se rende diante da humildade da região. Dos nórdicos ele tem a cor da pele que é a mesma do cerne centenário que não se rende à ação do tempo. Tem os cabelos brancos que a sabedoria dos longos e proveitosos anos descoloriu. Homem de muitas palavras, usa sempre um adjetivo para caracterizar determinado acontecimento. Quando discorda, o faz de forma branda, sensata.
Por ter sido atuante em muitos segmentos do município, é capaz de opinar sobre qualquer tema. É um dos homens mais respeitados (senão o mais conhecido) da região. Em todos os recantos, basta que ele chegue para que todos o saúdem. Peso pesado na política, marco definitivo na sociedade, atravessa o ano sempre aberto a novas ideias.
Os desafios foram tantos, mas ele os transformou em vitórias.
Protagoniza, ao lado da senhora Aparecida Freire Wuo, uma exemplar história de amor, com perseverança, lutas e muitas glórias. Criaram dez filhos, educaram-nos e veem seus netos seguirem os mesmos caminhos.
O título de cidadão Honorário ao senhor Francisco Wuo é uma comenda merecida, outorgada tardiamente a um salesopolense de destaque que, definitivamente, entrou para a história.




“Por certo que não lhes deixarei bens materiais, mas deixo a vocês, meus filhos, a maior riqueza que um pai deve desejar deixar: a educação. ”  Francisco Wuo (01/05/1919-25/12/2017)