sábado, 13 de setembro de 2014

Espelho Negro.

Se por instantes fechamos os olhos e tampamos os ouvidos, é como se desligássemos do mundo. Tudo repousa. Cessa a ansiedade. Atenua-se a sofreguidão adolescente na busca desenfreada dos sonhos pessoais.Humildes, orgulhosos, pobres, ricos, anões, mutilados, enfim, todos que alimentam em si o sopro da vida, quando voltados ao seu próprio interior, não manifestam oposição nesse mundo igualitário, oculto na real essência do ser. Estando "cegos e surdos", aflora-se o tato; as percepções são calmas; não há dor. A insegurança silencia no caldeirão efervescente da mente confusa que a vida sedentária fermentou. Sentem-se as artérias e o coração a pulsar dando vida ao corpo, ferramenta imprescindível às ações do cotidiano. Momentos de relaxamento levam a esquecer a necessidade de competir, de ir além do limite, e o raciocínio torna-se lógico.
Nessa viagem, há tempo para ouvir o vento, sentir que a palmeira é silenciosa, que o oceano é pacífico. Momentaneamente tomamos as rédeas do destino e a insípida realidade faz-se um palco, onde os projetos fantásticos são realizáveis...Mas ao abrirmos os olhos, veremos que a palmeira, com a força invisível do vento agita os ramos; o oceano, antes manso, se eleva e, num clima frenético, desperta tempestades e furacões aterrorizando os seres vivos... Se destamparmos os ouvidos, ouviremos o clamor dos agonizantes na eminente derrota contra os poderes públicos; o mendigar de pessoas com seus conflitos íntimos, sem objetivo, a buscar esperanças na dualidade entre céu e inferno, pontos extremos que a cultura incentivou e que limita as ações individuais. Isso as tornam inimigas, perseguidoras, traidoras da própria raça, a ignorar valores que a guerrilha diária subjuga.  
Os olhos fechados fazem com que vasculhemos na escuridão. É como um espelho negro que não reflete imagens, mas permite que se encontrem valores pisoteados pelas conveniências do dia-a-dia. Deixa-se evidente que, os seres vivos, são livres para se aliarem a quem bem lhes convier. A Natureza não gerou inimigos, mas soldados providos de dons natos e que devem lutar para a sua realização, cujos prêmios são: a sabedoria e a experiência. As divergências são como uns quebra-cabeças em que tudo se encaixa, e o objetivo maior é que vivamos em paz, num mundo onde os dias e as noites podem ser mais felizes, como no Natal.