O silêncio se impõe de forma inquietante.
Instintivamente ela se eleva e traça no ar movimentos compassado e de forma
ininterrupta. Ela, a batuta, com sua aparência franzina é enérgica! No seu vai
e vem, convoca a cada instrumento ordenando sua entrada ou saída de cena.
Assim, todos os metais, por ordem são chamados e, mesmo com seu tom estridente,
não se impõem sobre o coro virginal oriundo das cordas. Igualmente, o baixo
tuba e os tambores se respeitam. Juntos, criam uns sons harmoniosos, envolventes.
Não importa a diferencialibidade dos mais estranhos e exóticos instrumentos, na
orquestra tudo se encaixa. Se executarem grupos de pianos, corais de centenas a
milhares de vozes, tudo sairá uníssono. Em seu momento, a sutil flauta faz frente
às sopranos, aos tenores e, até mesmo ao poderoso gongo japonês. Em tudo há
cadência, pois, embora diferenciados entre si, os graves, contraltos ou
aveludados, seguem pela mesma trilha da partitura que, com suas poucas linhas,
permite breves escapadas, mas nunca o seu total desprendimento. Agindo dessa
forma, têm suas sonoridades respeitadas, portanto; se grandes ou pequenos,
seguem pela mesma estrada. Ordeiramente vagam pela breve, semibreve até as semifusas
em compassos certeiros sob a regência da implacável e dinâmica batuta. As “fusas”
exigem dos instrumentistas muita
agilidade; são como crianças saudáveis
que recreiam pelas ruas. As “colcheias”
se assemelham aos adultos que ponteiam a harmonia; as “breves”, lembram o lado metódico da
população. Todo o conjunto forma um evento singular que embala os sonhadores.
As peças se alteram: clássicas, dramáticas, as sonatas. A perfeição do
sincronismo musical se dá em virtude da rígida marcação e da interpretação das
notas e escalas pelos músicos. Por trás de cada peça, há um ser humano dando
vida aos símbolos musicais. É o cérebro o conversor dos sinais em sons e,
através deles, os gráficos determinam os movimentos dos dedos nas cordas ou nos
teclados; das mãos hábeis nas baquetas ou na batuta que os rege com todo o
vigor.
Agora, convenhamos. Se por trás de cada
instrumento há pessoas e, se parte delas a execução afinada da sinfonia; então,
porque na vida real o mesmo não sucede? Se os músicos estudam durante a
infância para que, quando adulto, possam ocupar um lugar de destaque na
orquestra; mas as pessoas treinam a vida inteira para se harmonizarem! Têm sua
Carta Magna e elegem seus regentes, aos quais por si se submetem a todos os
tipos de exploração. São talentos dignos de grandes peças, mas se fazem inúteis
diante incontáveis momentos inglórios originando um imenso submundo explorado
indignamente. Formam uma orquestra apática num concerto desafinado. Mas,
afinal, na sinfônica humana, quem desafina?...São os “músicos” ou os
“regentes”?