quarta-feira, 11 de março de 2015

Por trás da Máscara.

Nesses dias em que se aproxima a festa de São José, é um bom momento para  relembrar alguns textos que falavam desse povo. O primeiro deles é da festa do eucalipto de 2008. 
nati-fazendoartesempre.blog

Colaboração da família Pinheiro. (José Jacinto in memórian)

É chegado o esperado dia.
Durante todo o ano, a vida - com seus altos e baixos -, se ajeitou.
Os munícipes e convidados vão chegando e se instalando nas redondezas do Franciscão. É a festa do eucalipto que se realiza na submissa Salé. Fatos e feitos tradicionais são relembrados nesse evento que vem ganhando dimensão interestadual.
Neste espaço, desta vez, vamos abordar uma particularidade desse povo: o cognome. O apelido é uma forma de a comunidade rotular seus membros e, com isso, criar um personagem adaptado às regras do lugar. O que ninguém nota é que essa prática vem de longa data. É só dar uma olhada no passado para ver o grande contingente de apelidos com raízes centenárias que se espalham por entre os estandes. Nesta festa se encontram descendentes do Totó Fernades, Totó Cardoso, Totó Bonito, Totó Rocha que era primo do Tóte e que foi amigo do Tózinho e da Dona Totò, que não se deixa enganar. Cômico, satírico ou metódico, eles se alastram. Há uma imensa variedade de alcunhas desenvolvida pelos munícipes. Nessa versão, pessoas e personagens se encontram num evento imaginário.
Seguem as honrarias. Sendo a décima primeira edição do evento, muito se fez, mas muito há por fazer. Entre exposições e palestras, os temas versam sobre o principal produto da região: o eucalipto. Uma voz em off anuncia: (ao som de música flamenga)
_ ...Com vocês... o incansável... Magal!!!
Magal – Mude essa música, meu filho! Estamos iniciando mais uma festa do eucalipto e quero lhes dizer que eu também tenho como companheiro um papagaio Louro...
Papagaio – (ao som de moda de viola) Louro...não! Craac! Dosouro!
- Chame, também, o Preá!!! Insistiu alguém de um grupo onde se via membros da família Chaminé; a Zu, o Fofo e o Sórdinha.
Várias barracas cercam o espaço. Propaganda à parte, o charme do lugar se dá à presença feminina. Jovens se encontram, casais se enamoram, pessoas se divertem. Discretamente, pessoas conhecidas percorrem os espaços; Mi, Ma, Gabi; na mostra de reflorestamento ouvem a palestra de Parréla e Tonheca sobre o meio ambiente e a imagem; Shana, Tiana, Ju e a Cáta apreciam as brincadeiras; Lola, Nena e Nega visitam o artesanato.  Marle, Poli, Conce, Igue, Guida questionam Dora, mãe do Japa, numa reunião improvisada sobre educação; já a Nhêta, Bástia, Chú e a dona Cóta, lamentam a falta de um cenário produzido por dona Cila,- em tempo reconhecida pelos feitos locais-; nele, introduzida pela Divina e acompanhada por um improviso apaixonado do Pi, ouviria-se a voz aveludada da Zica, numa singela homenagem a Zéca da Bitica, Frango, Batatão....
Na roda de amigos figuras são lembradas: Panca, Bana, Charuto, Porangaba, Zabé, Zétão... Nomes característicos locais também se expõem: Jô, Tãozinho, Tião tião, primo do Tião Bói, Jaimão e a Tulinha, que tudo contabiliza e manda a conta.
Tala e Tóla se conhecem e Dinho, Dine, Done e Du não formam um quarteto.
Provas.
No chinelo; Billu e Bolão não saem do lugar alegando que Esquerdinha e Guaru queimaram na largada. Feijão e Fumaça se atrapalham; Meio Quilo e Bil, concentrados. Soa o apito.
Magal – Cuidado com os convidados! (na platéia: Bê, Tano, Preta;) – Segurem o Lebre, o Burrico!... Não pisem no Sapo!;  Protejam o Galo! Olha o Grilo!!!
Correndo por fora, Meio Quilo e Bil são os vencedores.
Zezé, Zico e Juca não são parentes. Ticão e Miagui são amigos de infância e, ao lado de Sulica; Beto, Cris e o Nato, aplaudem da escada.
Dosouro - No cabo de guerra teríamos; craac! de um lado, a turma do Pega Taz; do outro, a turma do Corote. Com a ausência do segundo competidor, craac, entraram: Cheiroso, Pirulito, Pacuia, Biriba, Macalé, Cabeça; força, moçada!
Magal - Resultado: foram desclassificados Pirolinha, Pistolinha, o Passarela, o Minhoca ....(Agitação entre os competidores) - Alguém chame por reforço para conter os revoltados.
Dosouro – Craac! Chamem o Cunhão, o Piaza e o Ventania e detenham o Fubá, o Pestana e o Biqüila por prática ofensiva.

Na roda dos ex-esportistas, sobressaía a figura dos veteranos: Xarope, Furacão, Flecha, Ferpudo, Gi, Mingo, Caçarola, Gato, Tifú; o saudoso Quinabraia também foi lembrado.

Amontoados em frente às arquibancadas espremiam-se o Birosca, o Tocha, Da Lua, o Véio, Goiaba, Parafuso e o Poeta; eles incentivavam na corrida com toras onde o Arroz, Tartaruga, Unheiro, Branco, Galego e Caranguejo mostravam suas forças. O vencedor foi o Cotonete e o Vardão saiu bravo e com o chapéu amassado.
Na prova de arremesso de toras desclassificou os seguintes competidores; Cabeludo, Presépio, Polenta, Gringo, Carioca, Pelé, Babalu, Frangão, Pio, Biro, Xixi e Bahia. Os finalistas era a nata dos mais fortes: Carnudo, Zé do Bófe, Déquinha e Chico Diabo. O Júri, no entanto, desconsiderou o resultado por eles apresentado, então foi criada uma rápida comissão para decidir o resultado. Apresentaram-se Chacrinha, Barrinha, o Xuxa, Nhonho, Nilão, Nil e o J.B.; a presidência foi dada ao Quietinho. Considerou-se vencedor Déquinha que ofereceu a vitória à memória de seu pai, Pinheiro, e do saudoso Capivara. Alguém lembrou o Lendário Nhôr, do Fuinha, Bi, Cambéva, Farelão, o Carijó, o Cará...  
Magal - No sorteio avulso foram premiados: Diz aí Louro; quem levou a camiseta?
 – Louro, não! Dosouro. A camiseta foi pro Bigode; craac, o boné, no par ou impar o Chororó perdeu para o Amarelo; o chaveiro para o Borracheiro, craac; O Ney dispensou o brinde; o Cordeiro e o Sujinho não estavam na nos arredores.
- “O nobre colega permite-me um aparte? O Cordeiro citado é nome e não apelido”. Afiançou o Nico acólito com a aprovação do Nico da Lenita e do Nicão. O Nico da Santa Casa estava em lua de mel, na praia.
Na barraca do churrasco pousavam para foto: Vanuza, o Chiba, Seninha, Pintinho, Capim, Pacuera, Masquinha...
Na prova do tambor havia uma fila de espera: Pescoço, Sardinha, Pisqüila; apostavam no Bob; já o Formiga, Fuscão e o Criança exibiam roupas sujas de pó de serra, fruto do tombo que levaram.
 (Agito próximo ao palco e o papagaio é depenado) – Socorro!!
Magal – O que foi Louro?
- Louro não, Dosouro! Eles me atacaram porque eu lhes perguntei se alguém estava com a ruela do Heno. 
Prova do descascamento.
Dosouro – Temos aqui, craac, uma questão difícil. O Rapacuia protesta que seu, craac, toco é muito grosso, mais comprido e duro; enquanto que os dos demais são moles curto e fininhos. (Nova pancadaria se estendeu no centro do ringue). Na barraca das batidas, Naldo, Negão, Bracaiá, Gordo, Gui, Gaiola ignoram e divertem-se com as piadas do Nhaca.
Na prova com obstáculos, o Juriti, o Pombo, o Curruíra e o Biguá saíram voando sobre os obstáculos; O Jabuti, o Tatu, o Carneiro e o Gordinho foram erroneamente escalados contra o Lagarto, o Coelho, o Rato o Xita. O Piriquito se manteve sentado, o Sagüi ficou na sombra; o Bode e o Bodinho expunham um novo perfume; o Jacaré, o Castor e o Trator, por serem de Biritiba, ficaram perto rio; dizem que eles temiam as rondas do Kiko e do Nego próximo ao Paraitinga. O Raposa - ao lado do Sabiá, Cuitelo, Canário e do Coruja -, torcia...
Se o assunto era quinta roda; Batata, Paralama, Melancia, Catatau, Serrinha, Sarninha, Gata Véia, se explicavam; se fosse cambão de engate, as opiniões ponderadas vinham do Nenê, do Cascudo, Bolacha, Lambari e do Pica Pau.
Magal - Diz aí, Louro! Qual o resultado do concurso de piadas?
Dosouro- Louro...não! Dosouro. Num júri formado (craac) Rei de Ouro, Prata Fina, Céu Azul e Ouro Verde; Bola Branca, Bucha, Maroca, Craac,
E o primeiro lugar, Louro?
_ Louro não... craac! Em primeiro lugar, ficou a piada do Cipó. Ele afirmou que o Zelão, Nirdão, Ponteado, Boiadeiro, Salim, o Barbeirinho e o Borracha alugaram um condomínio na Ilha Bela por uma semana, onde ficaram acampado pescando “espadas” e jogando Paciência.
O resultado provocou aplausos do Salé, do Inseto, e da roda animada: Pardal, Nhardo, Inho e Português sobre protestos de Tição, da Lu, do Pite, do Déo, do Mala Véia e do Barba, também concorrentes..
Na sombra da mata ribeirinha, Salsicha, Cebola, Feijão e senhores Buby e Lála falam sobre o custo de vida.
Observando o estande das máquinas, dos tratores; os Japãos (mecânico e lavador), China, Bokão, Bokinha, Viola, Chulapa  e Sacomani  gastavam sugestões sobre suas manutenções.
Sobre as motoserras; Índio, Tiririca, Pezão, Brinco, Tiquinho e Neno tinham a mesma opinião.

Durante os dias foram assim. Pessoas das mais variadas regiões e, até estado, participaram.
Com a aproximação do fim do evento, restam os cacoetes improvisados por Magal e Dosouro: “pega, pega, pega. Descasca o pau dona Maria; abrace o pau com carinho e não deixe ele escorregar”.

A chegada do crepúsculo contabiliza centenas de olhares, de declarações afetivas, pessoas que se reencontraram e a festa, em si, cumpriu a sua função.   
Na tarde de domingo, sob os olhares atentos de Belo, Pitanga e Tio e dos incansáveis vigias Barroca e Buldog; Jóca dispensa a palavra; as autoridades proclamam seus discursos, as Mineiras se despedem. Coca, Careca, Paiacã, Garrucha exibem seus prêmios; Cóbinho, Taquara, Ferrugem, Bicudo e Biscoito, nada levam, mas estão cansados e felizes.
Magal, sem voz, mal ouve o pigarreado de seu companheiro, Dosouro. Ao perceberem que a missão foi cumprida mergulham em profunda introspecção.
Há descontentes e haverá discordância das despesas.
Por trás das alcunhas se esconde a verdadeira fisionomia da força que move o município.
A noite silencia a multidão com seus algozes e esperanças, mas a figura humilde do Juruna (Agostinho Leme da Cruz) garante que tudo vai ficar “bão”.