quarta-feira, 18 de março de 2015

Festa dos “Zés”

Zé Flóes, 91, em plena atividade .
Publicado em março de 1997, foi uma das mais lida e comentada. Após dezoito anos,  muitos "Zés) já não estão ente nós, mas vale a homenagem.
 
Cinco da manhã, Zé Fróes solta mais um rojão e desperta a cidade. Em frente à Matriz, alguém pega o megafone e anuncia: “Vamos sair pela Rua São José, retornaremos na Praça do Peão, indo pela Avenida até o comércio do Zé Cunha. De lá, regressaremos seguindo em direção à "Moacir Wuo", até a Rua Zé Luiz que era Alferes, e aqui nos reuniremos para a bênção.”
Parte o cortejo. Na frente vai Zé Laurindo, Zé Hilário, Zé Santana e Zé Aurélio; esqueceram-se do Zé Criança, mas o Zé Menino já caminhava entre os presentes. Numa das esquinas estavam Zé Pedro, Zé Renó e parentes do Zé Portela.  Enquanto caminham, comentam que a filha do Zé Nicola é "durona" como professora e que o rádio do táxi novo do Zé Brito não funciona. Salientavam que no domingo, ultimo dia da festa, vão instalar uma bateria com vinte tiros na subida, início da estrada que leva ao bairro da Barra- “Aqui NÃO”! - protestou lá na montanha, o Zé Porangaba- “Já mudei aqui pro morro para viver mais sossegado”!... Zé Pagano faz cooper; passou por eles o caminhão carregado do Zé Bino, e Zé Trindade ia de carona. Outro rojão corta o céu; o canudo caiu no quintal do Zé Miguel e despertou o cachorro que vigiava a casa do irmão do Zé Eleutério. Dois "Zés Gordos" correm em direção à rodoviária: “O Zé Trama tá saindo!... Zé Ricardo não se levantou e o Zé do Geraldo Pedro não mora na loja”.
Chega o Sol e, com ele, a multidão. Num ônibus dirigido por Zé Porquinho, veio o Zé Vieira, Zé Bragança, Zé Galiano e o Zé Moreira. De carona com o Zé Bracaiá, várias pessoas, entre elas o Zé Soares. Zé Costa trouxe a Kombi lotada...
Dizem que o patrão do Zé Ribeiro, mais o Zé Francisco e o Zé Ferpudo tentam convencer o Zé Magal que, apesar de veterano, ainda insiste em jogar futebol. Por outro lado, a irmã do Zé Apolinário e a dona Tereza Marcos advertem seu filho, Zé Maria, que observa o Pau de Sebo. "Isso é coisa para crianças. Você não está pensando em subir lá..."
Hora da saudade. O pai do Zé Hermes, Zé Nunes, Zé Anselmo, Zé dos Santos, Zé Rosa e Zé Peão relembram Zeca da Bitica, Zé Lourenço, Zé Cândido, Zé Erculino, Zé Caetano, Zé Mineiro, O PM Zé Maria de Almeida, Zé Norato, Zé Elias, enlutados pela recente partida do Zé da Sianinha.
Zé Pedrinho, com suas histórias, enrolava Zé Dias e Zé Emboava; Zé Siqueira e Zé Maia que o conhecia não se aproximaram e se limitaram a comentar com o Zé Crispim que o secretário da paróquia, que é sobrinho do saudoso Zé do Carlito, não vai ser padre: ele vai casar... Zé Martim e Zé Carvalho acharam engraçados...
Aguardando a vez no salão do Zé Barbeiro, Zé do Gregório, Zé Periquito, Zé Pica-pau e Zé Chico ouvem o descontraído QSO entre Vagalume e Zé do Brejo sobre o antigo Ford amarelo do Zé Bilitardo; de "bigode à distância" pelas ondas do PX. Zé Leme, de carro polido, passa em frente ao Zé Freire, onde Zé Artur, Zezinho Venâncio, Zé Português e Zé do Raul ouvem os lamentos dos carreteiros Zé Branco,Zé do Cristo e Zé Pixincha. Em outra esquina, Zé Véio e Zé Passarela caminhavam em direção à Praça; notaram que alguém riscou a pintura do táxi do Zé Xilim, enquanto Zé Sorveteiro "descolava" um cigarro. Sentado na porta do escritório do Zé Capela, Zé Baixinho, primo do Zé Venâncio, notou que o ex-prefeito Zé Francisco indagava sobre o paradeiro do Zé dos Ouros, enquanto a sobrinha do Zé Américo confirma com o Zé Antonio, da rádio, se haverá o show com Zé Severino, músicas de Zé Rico e o retorno do Zé do Jorge que abandonou a sanfona após o casamento. Zé Hulk agita as garotas e, brincando com o seu filho, lá vai a Bernadete do Zé Roberto, irmã do Zé do Souza que é manequim, mas não desfila em passarela; logo em seguida, as futuras damas desfilam seus encantos: Claudete, neta do Zé Pascoal; Érica, sobrinha do Zezinho Pinto; Daniela, filha do Zé Vítor; Aline do Zé das Dores, sobrinho do falecido Zé d'Ozório e a Lourinha, neta do Zé Lopes.
O calor era intenso. No jardim, Zé Ganso e Zé Ilídio concordam que a freira, Irmã Conceição, vem da família do Zé Ivo, e que o Zé Tiago agora é crente. No carrinho do Zé Patrício, Zé Divino e Zé Patriota se entretêm com as ideias do Joãozinho, irmão do Zé Rosendo. À parte, Zé Paca e Zé Paulino comentam que o Zé Macaco dá show de salsa nas noites de terça, lá do Luso, e Zé Hidalgo com um dente "encravado", promete ir se consultar com a esposa do Zé Romão. Numa barraca, Zé Barreto, Zé do Armindo e Zé de Matos se atualizam. Zé Morais tudo observa, Zé Marciano sente calor e Zé Bastião faz sua ronda. Zé Fartura anda sozinho, Zé Boi não quer conversa; entre eles, Zé do Anísio e Zé de Campos debatem o jogo do Palmeiras. Zé Miranda e Zé Correia se despedem do Zé Geraldo e do Zé da Guia, enquanto Zé Generoso e Zé Melancia se refrescam com cerveja e lembram que o Zé Preto pretende mudar de ramo; que o Zé Linguiça anda sumido e que o lendário Zé Cambeva agora pode ir à Lua. Seu Ditinho, irmão do Zé Rodrigues, abençoa o Zé da Adelaide. O prefeito Zé Feital cumprimentou o Zé Amaro, Zé Sabino, Zé Camilo, o Zé da Cema e mandou um alô pra turma do Zé Pinto e do falecido Zé Machado, que transformava ferro em ferramenta... Alguém chama pelo Zéco vereador: "Tá no SUDS ou no Moacir", respondeu Zé Pinheiro; Zé Aristides confirmou enquanto, discretamente, Zé Melo avaliava o traje de peão do Zé do Antenor. 
Já era tarde, e a prova ciclística havia começado. Na multidão, aguardando a chegada, Zé Vicente dizia ao Zé Cardoso que a parentela do Zé Donato, hoje só faz cachaça pro gasto! Fim de prova. Venceu o irmão do Zé do Nor, seguido por Zé Cubas. Zé Messias, Zé do Roque, Zé Orlando, Zé Ponteado e Zé Fumo aplaudiram. Entardeceu! Na procissão, a fila de "zés-maria", "zés-leite" e "zés-antonios" abrangia um quarteirão. "Zé-carlos" e "zés-luizes" outro tanto e, as "marias-josés" preenchiam todo o espaço. Notados, também, os Zés, gêmeos do Bisca, e do Rosendo Aleixo, que seguiam em silêncio. Na igreja, os Ministros estavam sob o comando do filho do Zé Gomes. Entre os paroquianos, na direita, Zé Píu; ao centro, Zé Carlos Martins e a família do Zé Chaves; na esquerda, a Sulica do Zé Fidélis. A Tequinha do Zé Raimundo ajeita o microfone. No teclado, o filho do Zé Bento acerta seu instrumento com o violão do Zé dos Passos. Alguém pede passagem: era o Zé Marcos, que chegava atrasado... Zé de Almeida ouviu quando a Chiquinha e o Zé Leite fizeram a acolhida; Zé do Abílio comentou a primeira leitura; Zé Paulo entoou o Salmo; Zé Camargo anunciou a segunda mensagem e a cunhada do Zé Carrinho chamou a todos para o Evangelho. E as leituras falavam de Maria e José! Na homilia, falou-se sobre a família: dos "Zés" e "Marias" que mantêm essa instituição. Justificou-se a falta do Zezinho, aquele que as regras do jogo da vida fê-lo um prisioneiro, e da Mariazinha miserável, que em toda a sua vida só tem sido alvo de escárnio da população, e sem motivos, portanto, para trazer ao público seu semblante de desgraça...
"O ano que passou", disse o vigário, "foi o ano de eleição. Época em que estiveram, lado a lado, o Dr. José e o Zé do Barraco; a Dna Maria e a Maria sem Rumo. Todos se uniram, pois buscavam por um mesmo ideal". Prestou-se homenagem aos Zés desconhecidos: o Zé do Facão, o da Picareta, aos Zés que empunham as enxadas, os machados, enfim, que fazem da nossa cidade a sua casa e dedicam suas vidas a ela. Por fim, o padre-cura abençoou a todos, prometendo para o próximo ano uma nova comemoração, nesta, que é a Festa do Zé Carpinteiro, nosso padroeiro e pai adotivo de Jesus.