Nas últimas décadas a figura paterna
vem sendo reinventada. Com os avanços nos hábitos sociais, a família moderna
pôs sua liderança em xeque. A adolescência está mais aguerrida, mais
estimulada, e se faz astuta no convívio familiar. Alheios as parafernálias
eletrônicas, o mercado consumista continua a manipular os sentimentos na medida
em que os estímulos naturais de reprodução se acentuam somando-se a todas as
inovações que cada década trás. Por outro lado, as conquistas científicas, além
de estimularem o consumo, alteraram outros segmentos e, ao invés ampliar os
horizontes humanos, leva-os ao isolamento.
A transição entre as fases da vida cobra das crianças atitudes e, para haja um
crescimento saudável, ela precisa ter experiências que ajudem a desenvolver-se
em todos os aspectos. Os acontecimentos rotineiros molduram o caráter. É
no caminho e na escola que as amizades florescem, assim como os instintos de
defesa e de sobrevivência são postos a prova para o crescimento emocional.
Hoje, por motivos práticos, esse trajeto é feito de condução impedindo a
caminhada e o contato com as variadas formas de vida que se espalham pela
cidade. Quando estão juntos debatem, discutem seus universos, mas as
grandes alterações sociais não são digeridas em tempo e quando ficam sozinhos
sentem-se envolvidos em temas que carecem de uma boa explanação, o que os leva
ao encontro de situações polêmicas entre sentimentos de indiferença, de
preconceito com relação a fatos corriqueiros, mas que seu contexto nem sempre
permite compreender.
A modernidade está gerando uma juventude estressada. A solidão que assombra os
adultos, num mundo de tantos estímulos, envolve também os colegiais e as trocas
de informações em vídeos conferencias os mantêm isolados, com suas incertezas
provenientes da própria idade. A prova de que tantas informações não são
suficientes é o crescente número de pais juvenis, atos de violências,
dependência química, de doenças sexualmente transmissíveis, mesmo abastados de
informações. O contato via Web os desestimula a esforços e trouxe o
afastamento onde os laços de amizades se resumem ao kkkkk, rsrsrsrsrs. A
fisionomia de um "emoticon" simboliza a imagem do amigo leal que se
encontra a quilômetros de distância.
É nesse cenário que a figura do pai se faz cada vez mais necessária. Acuados
por motivos próprios, o lar volta a ser o ponto de encontro onde a família se
reúne. Livre do termo censura, cabe a eles questionar e opinar nas decisões dos
filhos, mas sem a exagerada autoridade e sim como um amigo. É ajudando na compreensão
dos fatos, ou como um ouvinte aplicado, que será possível partilharem de
dúvidas. Ou ele faz isso e é indagado sobre sexo, gravidez adolescente - porque
não homofobia -, ou essas dúvidas serão levantadas junto aos amigos virtuais.
Eis o desafio que o momento exige: ser alguém que enfrenta os dramas pessoais,
as incertezas mundanas e, ao mesmo tempo, uma pessoa disponível, aberto ao
dialogo, conectado.
08/11