Bruno & Boulos -oglobo.globo.com |
Amanhã, a cidade de São Paulo conhecerá o resultado decisivo que indicará o novo prefeito para o próximo quadriênio. Entre tantos competidores, sobressaíram dois desafiantes: Bruno Covas e Guilherme Boulos. Durante o tempo em que essa disputa foi preparada, muito foi dito - promessas, propostas, resultados de estudos-; também ocorreram inúmeras pesquisas de opinião que, periodicamente, foram publicados com o propósito de auxiliar ao eleitor indeciso. Mas, enfim, chegou o momento e cabe aqui fazer uma breve análise sobre cada um e os seus propósitos.
Bruno
Covas. Descendente de uma família ligada à política, tem sua base adquirida em
convívio com seu avô, tradicional homem público, ativo nos anos de chumbo e um
dos responsáveis pela retomada da democracia. É jovem, culto, com formação em
Universidades de renome; originário de clãs economicamente abastadas, político
por opção – ele mesmo afirma-, acatou em sua plataforma partes dos projetos
antes iniciados, dando continuidades aos mesmos e até ampliando – em alguns
casos- suas abrangências. Tem em seu favor o convívio com todo o histórico de
obras antes propostas, bem como dos valores disponíveis que a Fazenda Municipal
dispõe para os próximos anos, visto que está no poder há quatro deles. É filado ao PSDB.
Já
Boulos, como ele mesmo diz: tem a posição financeira estável, mas decidiu morar
nas comunidades e estudar os seus comportamentos. Nela concluiu seus estudos e
permanece trabalhando e participando dos movimentos oriundos de moradores que ensejam
novas conquistas para um segmento igualitário tão sofrido. É chamado de
agitador, de instigador, tem em seu currículo processo por invasão, protestos
rudes junto com as camadas menos abastadas da periferia. Construiu a sua base
eleitoral entre a população de baixa renda; prega a integração de todos em uma
sociedade, segundo suas palavras, mais justa. Se coloca como porta-voz das
minorias, mostra-se sensível às causas humanitárias e recebeu delas um aporte decisivo
na última seleção. Surgindo como uma postura moderna do movimento trabalhista, superou
candidatos aparentemente mais cotados para segundo turno. É filado ao PSOL.
As
estratégias.
Bruno,
provavelmente orientado pelas velhas raposas integrantes de seu partido,
escolheu para vice alguém discreto aos olhares públicos, e o manteve afastado dos
programas partidários; Boulos, pelo contrário, se associou à uma candidata que
tem experiência administrativa e representa o povo nordestino com suas
aspirações. O resultado dessa escolha veio no primeiro turno com uma boa margem
sobre o terceiro colocado.
Nos
últimos programas eleitorais, os ataques foram administrados sem envolver a
imagem de cada candidato em embates diretos. A consequência do confronto
público pode danificar ou enaltecer a imagem que foi cuidadosamente construída
durante a curta campanha do 2º turno. As
pesquisas de opinião surgem como demonstração de apoio ou crítica; porém, a apreciação
popular é muito sensível a qualquer novidade que surja, seja ela boa ou má.
São
dois pretendentes com bases opostas. O resultado da primeira etapa surpreendeu
e muito com os resultados. Candidatos que tinham em seu histórico a maior
votação de todos tempos, foram literalmente esquecidos. Concorrentes populares,
com apoio de políticos e religiosos também não foram confirmados pela
silenciosa opinião popular, que disse sim e não nas urnas.
Nesta
fase final, há outros fatores que estarão sendo julgados. Com a definição dos
eleitos, o segundo turno atraiu os derrotados da primeira fase; e o que eles
poderão somar ou subtrair pode ser uma incógnita. Para Boulos, a sua aprovação
em primeiro turno foi significante. Se ele conquistar a prefeitura de São
Paulo, terá um PIB e uma população equivalente ou superior a países do primeiro
mundo. Para Covas, a sua reeleição para mais quatro anos, será como um cartão
de visitas que o credenciara à gestão de São Paulo e, quiçá, do Brasil. Permanece
outro fator corriqueiro na mesma competição: a de deixar o seu encargo e tentar
antecipar o “andar da carruagem”, abandonando o mandato em busca de postos
maiores. Ao derrotado, ele terá dois anos para arquitetar a busca pelo Estado.
Já o vencedor, terá a dura incumbência de abandonar o posto e busca do sonho.
Outro expoente que se evidenciará a presença do vice. Covas optou por alguém
pouco visível politicamente, o que poderá pesar na urna, considerando um
provável afastamento temporário seu; seja pela saúde, seja pela batalha à novos
desafios. Quanto a Boulos, a presença da vice é algo mais confiável junto aos
eleitores. Basta lembrar que o vencedor terá pela frente tempos de provação na
luta contra a pandemia que assola o mundo.
Há
algo comum entre ambos que deveria ser uma tônica em todos os pleitos. São
cultos e o que se pode esperar é que o vencedor mantenha a postura digna, uma
liderança sensata, com urbanidade no trato com a população. Há muitas
controvérsias no contexto mundial causadas por ideologias retrogradas, e
comportamentos toscos não podem ser modelos na representatividade humana. O
segundo turno é o desafio final desta etapa e, certamente, eles estão se
armando para uma corrida que almeja o Planalto. A intenção de votos que ambos
recebem, os coloca no páreo para qualquer cargo, e a liderança da cidade de São
Paulo pode ser o primeiro degrau.